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Itacaré , Bahia, Brazil
Nesse blog, vou apresentar uma serie de estudos, textos, pesquisas e vivências que fazem parte do meu transito molecular, comumente chamado de vida. Iniciado no Budismo Vajrayana (Tibetano) aos 20 anos. Praticante de Iai do (4º Dan) .Graduado em Psicologia (UFMG - 11980) com formação em Psicologia Analítica. Socorrista (SAR) com especialização em resgate com helicóptero, em caverna e altura. Negociador junto a organizações militares em MG de suicídio com e sem armas letais, sequestro e cárcere privado. Clínica psicológica ininterrupta desde graduação. Amante da vida natural, moro em meio à Mata Atlântica na Bahia.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

A influência da cultura nas respostas psicossomáticas 


 

    As práticas e os significados partilhados nos grupos sociais formam o processo cultural, que tem permanência de tempo, caráter de coletividade e continuidade, realizando a construção da realidade. Uma cultura adquire conformação e caráter específicos graças à coerência de suas instituições sociais, as quais garantem sua continuidade. 

    As características da cultura representam potencialidades adaptativas e estressoras. O homem não é apenas o produtor da cultura. Esta interfere no biológico, como por exemplo, africanos removidos violentamente de seu continente, na época da escravidão, perdiam a motivação para viver fora de seu contexto cultural e padeciam do mal chamado "banzo", traduzido como semelhante à "saudade". Ocorria também um alto índice de suicídios entre os negros escravizados. Dessa forma as respostas psicossomáticas sofrem influências diferentes em cada cultura ou subculturas. 

    Os processos psicossociais são constituídos, em parte, por percepções e atitudes dos indivíduos e, em parte, por elementos culturais que direcionam os vínculos. Por exemplo, os critérios específicos sobre saúde, doença, trabalho, são constituídos pela cultura e transformados pelos indivíduos. A cultura é edificada a partir do meio ambiente, que corresponde ao mundo externo e à realidade imediata. Esta realidade é decorrente da vida cotidiana e subjetivamente dotada de sentido para os homens, na medida em que forma um mundo coerente. 

    Foram identificados como aspectos culturais estressantes o uso acentuado de tabus, saturação de valores, instabilidade de modelos culturais, privação de vida social e rigidez de normas. As pessoas julgam ter livre arbítrio para suas escolhas e se esquecem do controle que a cultura imprime sobre seus comportamentos. Este controle muitas vezes já está tão introjetado que passa imperceptível em algumas situações. E o estresse ocorre sem que o indivíduo perceba a sua gênese cultural. 

terça-feira, 19 de janeiro de 2021

A Arte de Sonhar



Passamos nossa vida acreditando que este mundo ai fora é o mundo real e que nossos sonhos pertencem a uma categoria abstrata e, em alguma medida, intangível. Assim ocorre porque fomos programados para isso. Tivemos toda uma vida onde não foi dada a devida importância aos sonhos e à Arte de Sonhar (que é o emprego de um conjunto de práticas destinadas a nos capacitar a sonharmos conscientemente). Desta forma, sonho e sonhar são coisas diferentes. Um vem em nossa direção (sonho) e o outro é quando vamos na direção que desejamos (sonhar). Somos prisioneiros dos sonhos de nossa cultura, dos nossos pais e somos sistematicamente, desde a infância, afastados do nosso “sonhar”. 

  Assim é que nos metemos em mundos que desconhecemos ou, para dizer o mínimo, não nos atende em nossos anseios. E o que vem a ser esse anseio (ansiedade) senão alguma “memória” de um mundo que nos é familiar em alguma medida. Onde, ou como esse mundo me é familiar? Como eu posso ser tomado de “saudade” por alguma coisa, idéia ou pessoa que não conheço (neste estado de consciência), mas parece que conheço de alguma forma?

Falemos um pouco dos sonhos.

Os sonhos têm sido tratados por alguns como meros dejetos da mente, como se fossem subprodutos que devem ser rejeitados pelos processos mentais, mal comparando, como se fora a bílis para o fígado. Tais que assim pensam – e não são poucos – confundem o sonho com o resultado da fisiologia cerebral (?).

Para Freud e seus seguidores o sonho seria como uma realização disfarçada dum desejo sexual recalcado. Para este autor, os sonhos seriam “fachadas” a esconder conteúdos que não poderiam ser expressos explicitamente na dimensão consciente. É como se fossem sinais ou seja, maneiras de exprimir coisas que poderiam ser expressas de outros modos, por ex.: caverna significaria seio materno, touro significaria pai, espada – pênis, o que levou a uma descrição fixa e reducionista e consistente com apenas uma possibilidade de significação. A função deste sinal, para Freud seria permitir que a “censura” consentisse que o conteúdo latente se revelasse.

Na Índia temos a descrição de que o mundo existe porque um de seus deuses “sonha” o mundo. (Vishnu)

Somos um corpo físico e um corpo energético. O corpo físico é por demais conhecido (ao menos achamos assim) e quanto ao corpo energético, este então nos é de todo desconhecido, ao menos no que diz respeito à sua forma de existir – embora em inúmeras vezes sintamos sua presença e manifestação - e como podemos usá-lo conscientemente. Como associamos o corpo físico ao mundo ao nosso redor, nós o usamos com uma certa desenvoltura e acreditamos que o mundo que existe ao nosso redor está aí para ser vivido e desfrutado segundo as limitações que ele nos impõe, por exemplo, podemos andar sobre a relva, ver o sol nascer, sentir a chuva, comermos maçãs,  mas não podemos caminhar sobre as águas. Por quê? Porque aceitamos simplesmente que as coisas se dão dessa forma preestabelecida que diz: não se pode andar sobre as águas. Ao longo da história da humanidade isso nos foi dito e aceitamos sem pestanejar e nem mesmo nunca tentamos andar sobre as águas. Porque não tentamos faze-lo? Porque acreditamos que tal não pode acontecer pois isso nos foi ensinado e vem sendo ensinado a milhares de anos. Já vimos alguém andar sobre as águas? Não, e mesmo que tivéssemos visto deixaríamos isso por conta de uma alucinação. Mas não quer dizer que tal não possa acontecer de forma absoluta. Pelo fato de não ter sido experimentado por nós, nos assegura de sua “impossibilidade”. 

Muitos não conhecem o Tibet, mas muitos sonham com o Tibet e são capazes de jurar que lá é um lugar mágico, encantado e cheio de coisas misteriosas. Porque isso se dá? Porque muitas histórias foram contadas a respeito e muito foi dito a respeito sobre os homens e mulheres que moram naqueles paramos e sobre seus poderes “miraculosos”.

Nossa situação de vida nos foi ofertada pelos que nos antecederam e nos ensinaram a dizer que é assim que as coisas devem ser.

No entanto vemo-nos às voltas com “sonhos” que nos mostram outras realidades, outras possibilidades, outros feitos. Em sonhos realizamos aquelas proezas fantásticas que só admitimos como pertencendo ao mundo dos sonhos ou aos tibetanos... e aqui começa nossa jornada, sermos capazes de “sonhar” os sonhos que quisermos e faze-los tão reais quanto estas linhas que você está lendo. 

Nós podemos moldar as circunstâncias de nossa vida de maneira que atendam às nossas especificações. O difícil aqui vai ser convencer o individuo que ele pode fazer isso, mostrar que ele pode entrar nesta estranha realidade, bastante diferente da realidade à qual ele está acostumado.

Se nos lembrarmos de algum grande feito que tenhamos realizado e que, em algum momento era dado como impraticável e que, depois de algumas tentativas e de séria intenção conseguimos realiza-lo, poderemos começar a apreender o significado da arte de sonhar. Tal era nossa convicção que conseguimos passar por sobre barreiras que antes nossa consciência determinou como intransponíveis.

Moldar nossa situação de vida é moldarmos nossa consciência de como estamos vivos. 

Tudo se resume, em ultima instância à maneira como organizamos o nosso mundo e o nosso viver nele e o cristalizamos. Memórias e emoções são atributos importantes nesse processo.

O nosso corpo energético é que se encarrega de distribuir a nossa energia pelos mundos físico e dos sonhos, e como passamos a maior parte do tempo conscientes apenas enquanto estamos acordados, sobra-nos muito pouca energia para estarmos conscientes enquanto sonhamos. 

Isso mesmo, podemos ficar conscientes durante o sonho e nisso consiste a arte de sonhar dos monges, dos feiticeiros e de outros homens e mulheres de poder.

O que vem a ser a socialização senão a repetição exaustiva de conceitos até que eles se tornem reais e aceitos. Esta repetição é a maneira pela qual nossos pais e a cultura nos socializaram para funcionarmos no mundo cotidiano, sem aviltarmos nada e nem incomodarmos ninguém se, por exemplo, resolvêssemos caminhar sobre as águas ou voássemos como os pássaros. Seria muito confuso e ameaçador para a cultura e para nossos pais se começássemos a fazer coisas que não estão em seu repertório reconhecido e aceito. Como lidariam com isso? Como explicariam para o vizinho que o filho deles fica voando pelo quarto e a filha sai voando (literalmente) pela janela sempre que tem vontade de se encontrar com o namorado? Mas não é isso mesmo que fazemos quando queremos fugir dos grilhões sociais e da família? A diferença é que ficamos deitados na cama sonhando que estamos fazendo aquilo e nos damos por satisfeitos (mas a sensação de incompletude permanece profunda e a sensação de frustração nos assola).

Entretanto quando temos uma intenção forte e determinada, somos capazes de desescalar as paredes de nossa casa e voarmos na direção de nosso sonho. Tais situações têm poder pessoal bastante para nos motivar. O desejo de liberdade, o desejo de nos encontrarmos com a pessoa amada, o desejo de irmos para aquele lugar proibido, nos confere uma disposição e energias que, tradicionalmente permanecem adormecidos. Aí está. Anseios profundos vindos de regiões do corpo energético nos confere capacidades, não raro, muito além das expectativas que temos de nós mesmos a ponto de realizarmos feitos “miraculosos”. Quem nunca ouviu ao menos um relato de, em caso de algum acidente que uma mãe foi capaz de levantar um móvel, ou mesmo um veiculo para dali tirar seu filho que corria risco de morte? De onde veio tal força? Da completa focalização da atenção da mãe sobre seu desejo e a isso chamo de INTENÇÃO. Não há nenhum desvio da atenção para a consecução de determinado objetivo. Não há nenhum desvio da energia. Toda ela é concentrada para se intentar o feito. Neste momento está demonstrado o que eu chamo aqui da arte de sonhar. Naquele momento do acidente a mãe ou o pai “sonhou” com outra realidade que não aquela que se escancarava à sua frente e foi capaz de constelar energia suficiente para criar outra realidade, qual seja, a do filho fora dos escombros ou de debaixo do veiculo. E os exemplos podem se estender às centenas. Nós mesmos já passamos por várias desta situações, mas como não temos poder pessoal para validarmos ditas experiências elas passam apenas a serem partes de uma lembrança curiosa, conquanto irrefutável.


Trabalhar com a arte de sonhar é apenas a forma como os homens de poder “lubrificam” os canais por onde essa energia, oriunda do corpo energético, flui para o nosso mundo mais consciente e, destarte, criar uma cadeia de escolhas de comportamento ao lidar com o mundo, escolhas muito mais adequadas e inteligentes do que aquelas que nossos pais e predecessores nos ensinaram. 

Estas novas escolhas destinam-se a recompor nossas vidas, alterando nossas reações e ações básicas com relação ao estarmos vivos.

O sonhar tem uma esfera própria. Em nada se parece com o que conhecemos até hoje tradicionalmente como sonho. 

Tudo no universo é energia, vibração. Energia pura e fluindo livremente e preenchendo todo o espaço e aqui e acolá condensadamente, formando corpos que são tangíveis no espectro de realidade em que vive o ser humano comum. Alguns animais percebem realidades para alem da dimensão em que o homem foi treinado a enxergar e aceitar e reagem à ela de forma inexplicável pelos cânones normais, mas não constituindo nenhuma surpresa para aqueles que conhecem as dimensões infinitas dos campos de energia mais sutis que constitui o que chamamos de universo...e nós não somos parte deste universo, somos o próprio universo manifesto e ativo.


Para o budismo, o ato máximo do ser humano é alcançar um estado no qual ele transcende o aspecto ilusório da dualidade e assim se reconhece como UNO com o universo. Em tempo, budha é um verbo na língua indo ariana que significa despertar, ou melhor definindo "aquele que sabe". Estamos aqui falando da mesma coisa. Transcender os limites impostos pelo corpo físico e sua cultura social significa penetrar no universo da energia existindo em sua forma plena, pura e fluida. A recente escola de Copenhague, a da Mecânica Quântica traz novas luzes sobre estes fatos já, fartamente sabidos, experimentados e corroborados por escolas e sociedades de mistérios e grupos de feiticeiros e monges em todos os rincões da terra. A mecânica quântica é um novo modelo para se pensar o universo, elas não nos fala de fatos, mas de possibilidades de tais fatos ocorrerem e sempre a partir da influência do observador. Será que neste caso, observador e sonhador consciente seriam sinônimos??? Falo aqui dos cientistas quânticos por se tratar da opinião daqueles que, tradicionalmente, são os detentores do conhecimento mensurável e, portanto, aceitável. É uma nova ordem de monges e feiticeiros modernos que, ao invés de estarem na mata e nos templos fazendo cerimônias, estão em seus laboratórios realizando suas experiências que, ao olhar de outros teóricos, podem parecer extremamente esotéricas também. Feiticeiros da nova era. 

quinta-feira, 14 de janeiro de 2021




Budismo Tibetano




  

Padma-Sambhava

Quando o Buda estava para falecer, em Kushinagara(1), e os seus discípulos choravam, Ele lhes disse: "Sendo o mundo transitório e a morte inevitável para todas as coisas vivas, chegou o tempo da minha partida. Mas não choreis, pois doze anos após minha partida, de uma flor-de-lótus, no Lago Dhanakhosa(2), no canto noroeste do país de Urgyan(3), nascerá aquele que será mais sábio e poderoso espiritualmente que Eu mesmo. Ele se chamará Padma-Sambhava(4) e a Doutrina Esotérica, o Tantrismo, será estabelecida por Ele".


Toda obra consagrada ao estudo de uma doutrina filosófica ou de uma religião começa, geralmente, pela biografia de seu fundador. Embora o budismo primitivo tenha se mostrado extremamente desprovido de curiosidade pelas circunstâncias particulares e pessoais da vida do Buda e muito apartado de tudo o  que nele não dizia respeito à pregação da Lei, nós seguiremos o costume. Todavia, antes de abordar este tema, convém definir claramente a palavra Buda, tão erroneamente interpretada pela maioria dos ocidentais. 

Parece supérfluo declarar que o termo Buda não é um nome próprio: jamais deve se dizer Buda, mas o Buda. 

Buda é um qualificativo que define o estado espiritual daqueles que conquistaram o Bodhi, isto é, o conhecimento superior e total. Inúmeras traduções foram propostas nas línguas européias. Elas tentaram, no que concerne ao francês, inutilmente resumir em uma única palavra o sentido exato que se tratava de reproduzir. "O Despertado", "O Iluminado", "O Sábio" nos deixam longe da idéia absolutamente precisa expressa pelos hindus. O Buda é, literalmente, "Aquele que sabe". Esta tradução em forma de perífrase é, aliás, adotada pelos orientalistas modernos. É encontrada na obra do professor Oldenberg (Le Bouddha, sa vie, sa doctrine, sa communauté. Traduzido do alemão por  P. Foucher, professor na Sorbonne. Prefácio de Sylvain Lévi, professor do Collège de France), que propõe, simultaneamente, uma outra forma destinada a exprimir a mesma idéia: "Aquele que despertou". A simplicidade da primeira forma, a maneira pela qual ela exprime, sem ambigüidade, o valor exato da denominação, deve, creio eu, fazer-nos preferi-la a qualquer outra. 

O fundador do budismo não detém a posse exclusiva do título de Buda. Os budistas admitem que, no decorrer dos séculos, outras personagens atingiram este eminente estágio de evolução. As lendas da Escola Setentrional nos dão até seus nomes. São vinte e quatro, dos quais o primeiro foi Dipankara, muito venerado na Igreja Lamaica. Entre os predecessores do Buda histórico, os seis últimos são particularmente mais conhecidos. São chamados respectivamente: Vipacyi, Cikhi, Viçvabhu, Krakucchanda, Kanakamuni e Kacyapa. O fundador do budismo, Gautama, situa-se depois de Kacyapa e seu sucessor previsto é Maitreya. Os cinco Budas, de Krakucchanda a Maytrea, são considerados como pertencentes ao período atual da Terra. Seus antecessores viveram em outras idades do mundo.(Esta explicação é dada aproximadamente, na impossibilidade de expor aqui as teorias das seitas místicas sobre o assunto. Com exceção do Buda Gautama ,nenhum dos cinco budas, que se diz pertencerem ao ciclo atual da Terra, tem existência histórica.). 

As explicações precedentes bastarão, sem dúvida, para compreender a situação exata do Buda no budismo. Ela não é única e nada tem de sobrenatural. Se a doutrina original ignora estas como que dinastias de budas, a idéia de que o Bodhi foi no passado e será no futuro conquistado por outros, além de seu fundador, está absolutamente sedimentada. 

Fica então bem claro o quanto é errônea a opinião daqueles que consideram o Buda como o Deus dos budistas. Veremos mais adiante o lugar que podem ter um Deus ou deuses no espírito dos budistas, mas, desde já é necessário rejeitar a idéia de assimilar o Buda a uma divindade qualquer e de ver nele algo mais do que um homem muito superior, sábio entre os sábios, mas puramente humano, um modelo muito perfeito que cada um de nós pode reproduzir, como ele próprio nos exorta, mas nunca um protetor supraterrestre e um distribuidor de graças miraculosas. 

 


Marcus Vinicius Moreira de Assumpção 

mi bsKyob pa Vanaprastha


(1) Kushinagara, o lugar do Pari-Nirvana do Buda, fica a cerca de trinta e cinco milhas a leste da moderna Gorakpur. Kushinagara quer dizer "Cidade (ou lugar) da erva Kusha", uma erva sagrada para os ioguins.

(2) De acordo com alguns relatos, o Lago Dhanakhosa ou, como também é chamado, o Lago do Lótus (em tibetano: Tsho-Padma-chan) fica perto de Hadwar, nas Províncias Unidas da Índia, embora geralmente seja dito que ele fica no pais de Urgyãn ( ou Udyãna).

(3) Dizem que Urgyãn correspondia ao país perto de Gazni, ao noroeste de Cachemira.

(4) "O Nascido do Lótus".

Para compreendermos o suicídio






MARCUS VINICIUS MOREIRA DE ASSUMPÇÃO




PSICÓLOGO CLÍNICO

ESPECIALISTA EM STRESS TRAUMÁTICO E PTSD

(DESORDEM DE STRESS PÓS-TRAUMÁTICO)




Revision Millenium 

 Divisão de Psicologia Aplicada e Gerenciamento de Desastres











O que entendemos por suicídio?



É a ação de suprimir a própria vida de forma voluntária e premeditada. Significa, pois, matar a si mesmo (redundância).



Suicídio - definições

O suicídio é...

                "... um ato de heroísmo." (Sêneca)


               "... um ato próprio da natureza humana e, em cada época, precisa ser repensado." (Goethe)


               "... a destruição arbitrária e premeditada que o homem faz da sua natureza animal." (Kant)


               "... uma violação ao dever de ser útil ao próprio homem e aos outros." (Rosseau)


               "... admitir a morte no tempo certo e com liberdade." (Nietzsche)


               "... uma fuga ou um fracasso." (Sartre)


               "... a positivação máxima da vontade humana." (Schopenhauer)


               "... todo o caso de morte que resulta direta ou indiretamente de um ato positivo ou negativo praticado pela própria vítima, ato que a vítima sabia dever produzir este resultado." (Durkheim)

 
          Definições teóricas se alternam, se complementam,  se contradizem: as reticências, ou mesmo um ponto de  interrogação, permanecem em desafio a uma resposta definitiva e exata. 


Não há uma única resposta porque o caminho do suicídio é o da ambigüidade. Nele vida e morte se encontram, se complementam, se contradizem, repetindo este movimento infinitamente como as definições do próprio termo em torno de ódio e amor, coragem e covardia, etc. Mesmo afirmativas que parecem inquestionáveis, como a de que o suicídio é resultado de angústia e sofrimento, não valem para todos os países e se tornam absurdas quando se estudam os casos de suicídio em países orientais. 

É comum os estudiosos do suicídio serem acusados de defendê-lo e incentivá-lo, sem considerar de maneira mais humana o drama de quem vive com suicidados na família ou com o suicídio dentro de si mesmo. A tais acusações, cabe responder que é preciso chamar a sociedade a assumir parte da responsabilidade com os suicidados o que não significa defendê-los e nem incentivar o ato suicida, mas a discussão é rica justamente porque o drama vida/morte é vivido por todos nós com nossas reflexões carregadas de sentimentos. 


Suicídio - aspectos psicossociais e um pouco de história                           

          É difícil precisar quando o primeiro suicídio ocorreu, mas ele parece estar sempre presente na história da humanidade. A  Enciclopédia Delta de História Geral registra  que, em um ritual no ano 2.500 a.C., na cidade de Ur, doze pessoas beberam uma bebida envenenada e se deitaram para esperar a morte. Recorrendo a livros religiosos como a Bíblia, por exemplo, é possível também encontrar os registros de alguns suicidados famosos - Sansão, Abimelec, Rei Saul, Eleazar e Judas.

 
          O suicídio de pessoas famosas foi sendo registrado, porém a história oficial ignorou os inúmeros cidadãos comuns suicidados. No entanto, historicamente, é possível constatar a maneira como a sociedade tratou os 




suicidados e como este tratamento foi se alternando, cabendo observar, com especial atenção, o suicídio enquanto questão política tratada de diferentes maneiras pelo Estado.

 
          Na Antiga Grécia, um indivíduo não podia se matar sem prévio consenso da comunidade porque o suicídio constituía um atentado contra a estrutura comunitária. O suicídio era condenado politicamente ou juridicamente. Eram recusadas as honras de sepultura regular ao suicidado clandestino e a mão do cadáver era amputada e enterrada a parte. Por sua vez, o Estado tinha poder para vetar ou autorizar um suicídio bem como induzi-lo. Por exemplo, em 399 a.C., Sócrates foi obrigado a se envenenar.

 
          Em outras culturas do primitivo mundo ocidental, era dever do ancião se matar para preservar o grupo cuja solidez estava ameaçada pela debilitação do espírito que habitava o corpo do chefe de família. Ocorria  "(...) uma franca indução comunitária ao suicídio, religiosamente estimulada e normativamente legitimada." (Kalina e Kovadloff, l983, p. 50)

 
          No Egito, se o dono dos escravos ou o faraó morriam, eram enterrados com seus bens e seus servos, os quais deixavam-se morrer junto ao cadáver do seu amo. Também no Egito, desde o tempo de Cleópatra, o suicídio gozava de tal favor  que se fundou a Academia de Sinapotumenos que, em grego, significa "matar juntos".

 
          Em Roma, como em Atenas, adotou-se em relação ao suicídio atitudes diferentes, legitimando a morte do senhor que se matava e condenando a morte do escravo suicidado. O senhor, um homem livre, ao se matar, exercia sobre si mesmo o direito próprio de sua condição social, amparado no espaço político pela lei pública. 




O escravo, porém, matando-se, ia contra a autoridade do senhorio, contestando seu poder e diminuindo seu capital, o que era contra a lei familiar predominante no espaço doméstico. O gesto suicida, glorificado no cenário político, era condenado quando se tratava de um escravo porque o valor do ato era inseparável da condição social do indivíduo. 

Entretanto, ao matar-se, a denúncia do escravo ia além da sua condição social e além do espaço doméstico porque colocava em xeque os valores universais de liberdade e justiça, os quais aparentavam ser exclusivos do seu senhor quando este lutava na defesa de sua cidade e de seus privilégios. 

De fato, é em defesa de liberdade e justiça, que Catão, chefe de clã, comete suicídio para se opor ao poder soberano de César. Mata-se para servir às leis e às liberdades da República contra a morte delas  - pelo menos as da aristocracia senatorial - imposta pelo Império Romano. 

O suicídio de Catão não  se constitui   em um ato que prejudica a estrutura comunitária, como afirmava  Aristóteles, mas em um ato de quem permanece fiel à sua comunidade. No Império, o Estado torna-se propriedade privada de César, onde os cidadãos são agora súditos livres para agir, mas não tão livres para morrer porque podem ter os bens confiscados em favor do Estado, penalidade esta aplicável aos militares e aos condenados ou detentos a espera de julgamento que suicidassem, desde que seus herdeiros não conseguissem demonstrar sua inocência.

 
          Se quatro séculos antes e quatro séculos   depois de Cristo  o suicídio é ora tolerado ora reprimido, sua reprovação vai se reforçando durante os primeiros séculos da era cristã até que seja totalmente condenado no século V por Santo Agostinho e pelo Concílio de Arles (452 d.C.), seguido depois pelos de  Orleans, 




Braga, Toledo, Auxerre, Troyes, Nimes, e culminando com a condenação expressa de todas as formas de suicídio no "Decret de Gratien", um compêndio de direito canônico do século XIII. Na Idade Média cristã, o suicídio é condenado teologicamente. 

A Europa cristã acaba com as diferenças entre o suicídio legal e ilegal: matar-se era atentar contra a propriedade do outro e o outro era Deus, o único que criou o homem e quem, portanto, deveria matá-lo. A vida do indivíduo deixa de ser um patrimônio da comunidade para ser um dom divino e matar-se equivale a um sacrilégio. O suicidado não tem direito aos rituais religiosos, seus herdeiros não recebem os bens materiais e seu  cadáver  é castigado  publicamente, podendo ser  exposto nu ou queimado. Os suicidados são igualados aos ladrões e assassinos e o Estado e a Igreja fazem tudo para combater os suicídios.

 
         
A sociedade foi reprimindo o suicídio até a Revolução Francesa, a qual aboliu as medidas repressivas contra a prática do suicídio, o que para Kalina e Kovadloff(1983) significou que a conduta suicida deixou de comprometer a estabilidade do Estado. O suicídio assumiu, assim, um caráter que oscila entre o quase clandestino, ou francamente clandestino, e o patológico. É um gesto solitário, dissimulado, uma transgressão. Eles escreveram:

 
"Entre a pessoa e a comunidade começou a se abrir, em meados do século XVIII, uma distância que duzentos anos mais tarde terminará constituindo as múltiplas formas de incomunicação contemporânea. Por isso, mais que um ato de indulgência estatal frente ao indivíduo, deve-se ver nesta liberalização progressiva das normas punitivas com respeito ao suicídio uma expressão de irrelevância social que começa a pesar sobre a pessoa. Ou seja, não se contempla o suicídio com tolerância porque se o compreende, mas porque já não se lhe atribui maior transcendência coletiva." (Kalina e Kovadloff, l983, p. 54)

 
       


O estudo de Durkheim(1987), analisando os suicídios ocorridos no século passado, tornou-se obra clássica da sociologia por chamar a atenção sobre a significação social do suicídio pessoal - o suicídio é uma denúncia individual de uma crise coletiva. Já o estudo de Kalina e Kovadloff merece destaque porque parte  da  premissa de que em cada sujeito que se mata fracassa uma proposta comunitária. 

Eles analisam a sociedade atual com clara intenção de entender o suicídio como existência tóxica. A existência tóxica é a vida vivida de forma que o ser humano esteja se matando no cotidiano, todos se matando em comum acordo  através de uma maneira de viver perigosa para a saúde. Uma existência tóxica é uma vida envenenada porque vive daquilo que a aniquila, promove e perpetua a alienação humana  e fomenta o apoio às contradições que a destrõem. Para tanto, multiplicam-se as condutas autodestrutivas como o armamento nuclear, a contaminação do planeta e, até mesmo, a despersonificação urbana do homem contemporâneo. Enquanto na concepção clássica  o suicídio é o ponto final de um processo, Kalina e Kovadloff(1983) afirmam que o suicídio é o processo em si mesmo.

 
          O fato é que, apesar da Revolução Francesa ter abolido as medidas repressivas contra a prática do suicídio, aparentando que a conduta suicida não compromete a estabilidade do Estado, uma observação primeira da relação suicidado-sociedade indica que há um movimento social organizado de prevenção ao suicídio, o qual mobiliza os poderosos meios de comunicação modernos e instituições como, por exemplo, o CVV-Centro de Valorização da Vida. Ou seja,  há um confronto latente na complexa estrutura social moderna  entre dois movimentos: o dos suicidados e outro que se lhe opõe.

 
          





Partindo do pressuposto que o suicídio é um processo em si mesmo que não termina com a morte e, ainda, que o suicídio é um gesto de comunicação entende-se que o indivíduo se mata para relacionar-se com os outros e não para ficar só ou desaparecer. A morte é o único meio que o sujeito encontra para restabelecer o elo de comunicação com os outros.

 
          Fernando Sabino(1986), na crônica intitulada "Suíte Ovalliana", conta que Jayme Ovalle, questionado a respeito do suicídio, disse: "É um ato de publicidade: a publicidade do desespero."(p. 144) Desde dezembro de 1990, a publicidade do desespero dos índios guaranis de 16 a 22 anos, em Mato Grosso do Sul, ocupa as páginas dos  jornais brasileiros, obrigando as autoridades governamentais a se interessarem  por esta crescente onda de suicídios por enforcamento e por ingestão de veneno.

 
          A questão a ser discutida é: não é o suicídio um gesto de comunicação, a transmissão de uma mensagem individual para a sociedade? A resposta violenta do suicidado é sua busca em comunicar-se, transformando-se,  porque a sociedade não lhe permitiu antes que o fizesse. Quando lhe foi impossibilitado comunicar-se, cortaram-lhe também sua influência sobre a sociedade, a qual se restabelece através de seu gesto suicida, mesmo que não seja uma pessoa famosa.
          Note-se que o termo "suicida" não clarifica qual é a condição do indivíduo. Por isto, é preciso fazer uma distinção entre os termos "suicidando" - aquele que ameaça e/ou tenta suicídio e que pode ser chamado de ameaçador ou tentador; e "suicidado" - aquele que efetivamente se matou.

 
          O suicidado pratica um ato de comunicação e não um gesto solitário e que, além de tudo, é uma comunicação para uma sociedade que o impede de comunicar-se de outras formas que não seja através deste gesto.





Diferenciações:


Suicídio frustrado: Ação de suicídio que não foi consumado, tendo o indivíduo autêntica intenção de chegar a ele.

Suicídio consumado: É o intento que teve êxito tendo como expressão o autêntico desejo suicida ou como uma casualidade não desejada dentro do comportamento suicida.

Condutas suicidas:  São as encaminhadas para conseguir este fim, consciente ou inconscientemente.

Simulação de suicídio: É a ação que não chega a seu fim, por não existir autentica intenção de se chegar a ele. (Baixa ou ausência de intencionalidade).

Risco de suicídio: É a possibilidade de que um indivíduo atente deliberadamente contra sua vida. Dito risco se incrementa se existe a idéia de menosvalia da vida, desejo de morte por considerá-la um descanso, ameaças e tentativas de suicídio prévias.


Parasuicídio:


O parasuicídio ou lesão deliberada seria o conjunto de condutas onde o sujeito de forma voluntária e intencional se induz danos físicos, cuja consequência é a dor, desfiguração ou dano de alguma função ou parte de seu corpo, sem a intenção aparente de matar-se. Incluímos nesta definição as autolacerações (como corte nos pulsos), autoenvenenamentos (ou sobredosagens medicamentosas) e as autoqueimaduras.








Qual é a dimensão do problema em cifras?


A nível mundial, as cifras de autolesões se estimam entre 3-5% da população maior de 16 anos, incluídos suicídios consumados.


A cifra anual da União Européia é de 800 a 1000 casos por 100.000 habitantes/ano.

De 15 a 30% dos sujeitos que se autolesionam repetem a conduta antes de 1 ano e entre esses 1 a 2% suicidaram-se entre 5 e 10 anos da tentativa inicial.

Diariamente se produzem no mundo entre 8.000 a 10.000 intentos de suicídio, dos quais 1000 conseguem.

Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), o suicídio seria a décima causa de morte nos países civilizados.



Quais são os principais fatores de risco pessoais e demográficos para o suicídio?


Transtornos psiquiátricos: Em mais de 90% dos casos existe enfermidade psiquiátrica concomitante (comorbidade).


Por ordem de frequência temos:

- Transtornos do estado anímico: O risco fica entre 15 e 20%, sendo a depressão maior e os quadros de psicose maníaco-depressivas.

É menos freqüente na primeira fase de queixas afetivas.





Abuso de substâncias psicoativas: Denominam-se assim porque produzem, enganosamente uma sensação psíquica muito agradável. Concretamente o alcoolismo, é o segundo diagnóstico psiquiátrico mais freqüente, a taxa de suicídios é de 15%. 

A incidência é algo menor em outras toxicomanias (10%), como o consumo de canabis, opiáceos e cocaína.


- Esquizofrenia: Estado mental caracterizado por uma alteração  profunda do pensamento, da afetividade e uma percepção desorganizada e alterada da realidade. Existe aqui um risco de aproximadamente 15%. Se associa à atividade alucinatória (escuta de vozes que não são reais e que lhes impulsiona ao suicídio) e à depressão. Ocorre com freqüência em jovens nos primeiros quatro anos da enfermidade e associado às repetidas agudizações da mesma.

- Transtornos da personalidade borderline, que se caracteriza pela diminuição do coeficiente intelectual, depressão e abuso de drogas ou álcool.

- Síndromes mentais orgânicos (10% do numero total): onde se incluem a demência e o Mal de Parkinson, fundamentalmente.



História de Intentos e Ameaças:


Entre 25 e 50% dos atos consumados possuem história conhecida de tentativas prévias. Existe uma tendência a repetir os mesmos gestos suicidas. 







Quanto à idade: 


São grupos de alto risco os jovens e os anciãos. O restante se distribui de forma aleatória nas outras faixas etárias.

No homem a frequência aumenta com a idade, com uma incidência máxima ao redor dos 75 anos. Os homens  consumam o suicídio de duas a três vezes mais que as mulheres.

Nas mulheres a idade de maior incidência está localizada entre 55 e 65 anos e, nesta faixa etária, intentam de duas a três vezes mais que os homens.



Fatores Sociais:


Estado civil: Solteiros, viúvos, separados e divorciados. Viver só, perda ou fracasso de uma relação amorosa no último ano.

Lugar de residência: Mais em meio urbano.

Perda do rol o status social, marginalidade recente.

Desemprego ou trabalho não qualificado.

Problemática social, familiar ou de trabalho grave.

Ateus. (sem religião definida)



Fatores Sanitários:



Aproximadamente em 50% dos intentos observa-se a deficiência física, destacando-se a dor crônica, as enfermidades terminais (câncer, AIDS: 4% do total) e as intervenções cirúrgicas ou diagnóstico recente de lesões invalidantes e deformantes.





Quais são os principais fatores de risco pessoais ou demográficos para autolesões de intenção não suicida e que podem evoluir para suicídio consumado?


Conflitos pessoais e problemas vitais estressantes nos seis meses anteriores às autolesões. Soem ser problemas de relação com sócios, cônjuges ou familiares. Muitos apresentam alterações de comportamento que não chegam a representar transtorno psiquiátrico definido.


Idade e sexo: Mais freqüente entre 20 e 30 anos. Diminui claramente na meia idade. Afeta mais a mulheres que a homens (duas vezes mais).

Antecedentes familiares: Suicídios familiares e atos autolesivos na família, história de abuso familiar, consumo de álcool e/ou drogas nos pais e morte recente destes.

Fatores sociais: Desemprego, baixa classe social, estado civil solteiro ou divorciado.



Que recomendações devem ter sempre presentes os familiares, amigos ou companheiros de trabalho de pessoas depressivas ou com idéias suicidas?


Levar a sério todas as ameaças.

Considerar a possibilidade de suicídio em todo sujeito que manifesta forte sensação de desamparo ou desesperança: “Não tenho saída para os meus problemas!!!”

Estar atento às mudanças de ânimo ou melhora repentina da depressão: “Alívio secundário à sua firme decisão de suicídio”.

Indagar-se sobre o risco e pensar seriamente sobre todo sujeito que apresenta acidentes freqüentes e consumo reiterado de drogas ou álcool.

Considerar seriamente a possibilidade em pessoas que hajam sofrido acontecimentos traumáticos prévios: luto recente, perdas e outros acontecimentos vitais estressantes. 



Como devemos atuar diante de uma pessoa que queira se suicidar?


Mostrar empatia, com atitude tranqüila e não-crítica. Não mostrar nervosismo em hipótese nenhuma. Tratamento cortês e compreensivo/colaborativo.

Retirar todos os meios lesivos que possam estar ou vir a ficar ao alcance do sujeito.

Não introduzir nenhum fato, objeto ou personagem novo à cena onde se desenrola a conversação (que em última análise, é sempre uma negociação).

Não evitar o tema (suicídio). Perguntar sobre o desejo de morrer não propicia ou elicia o suicídio.

Se o sujeito sente alívio ao ser perguntado ou ao expressar seus sentimentos íntimos, podemos insistir nesta linha de conversação,caso contrário há que se considerar a mudança de estratégia. Perguntas que devem ser consideradas como um termômetro para continuação da conversação: 

“Se sente mal, muito preocupado e inclusive desesperado?”

“Em alguma ocasião houve desejo de deixar de viver?” (há que se observar aqui a estratégia de dissociação cognitiva: não falamos em desejo de suicidar, mas introduzimos a possibilidade do viver, com a fórmula: “deixar de viver”)

Tem pensado em fazer dano a si mesmo?


De todo modo, enfatizo não insistir com o convencimento do sujeito a não tentar o suicídio.





DESTACANDO:


Sintomas que indicam suicídio

Quem vai suicidar raramente toma essa decisão de repente. Nos dias e nas horas antes das pessoas se matarem, normalmente há sintomas e coisas que indicam suicídio.

Os indícios mais fortes e perturbadores são verbais – “eu desisto”, “já não me importo mais” ou mesmo “estou pensando em terminar tudo”. Tais comentários devem-se tomar sempre a sério.


Outros sintomas comuns:

Deprimido ou taciturno.

Indiferente 

Pôr os negócios em ordem e dar as coisas de estimação 

Mudança de comportamento, atitude ou aparência 

Abuso de drogas e bebidas alcoólicas 

Sofrer muito prejuízo ou alteração no modo de vida 

Oferecer objetos ou bens pessoais valiosos

A seguinte lista tem mais exemplos que podem ser sintomas de alguém que está a contemplar o suicídio. Claro que, na maior parte dos casos estas situações não causam o suicídio. Mas, geralmente, quanto mais sintomas um indivíduo tem mais risco corre.




Situações


Abuso físico ou sexual.


É de família (o suicídio e a violência).


Morte de um amigo ou de um familiar.


Mau aproveitamento escolar, perto dos exames, notas.


Desemprego, problemas no trabalho.


Ação no tribunal está próxima.


Preso recentemente ou à espera de ser solto.




Comportamento


Chora.


Briga.


Transgride as leis.


Impulsividade.


Automutilação.


Escreve acerca da morte e do suicídio.


Tentou-se suicidar anteriormente.


Comportamento extremo.


Mudança de comportamento.




Mudanças Físicas


Falta de energia.


Sono – dorme pouco ou demais.


Falta de apetite.


Engorda ou emagrece muito.


Começa a andar sempre adoentado.


Mudança de aparência repentina.


Falta de interesse na aparência pessoal.



Pensamentos e Emoções


Pensa em suicidar-se.


Solidão – falta de apoio da família e dos amigos.


Rejeição, sente-se marginalizado.


Sente-se muito triste ou culpado.


Incapaz de ver além do foco restrito.


Devaneia.


Ansiedade e fadiga.


Desamparado.


Falta de dignidade.



Alguns mitos sobre o suicídio.


1)Quando uma pessoa pensa em suicidar, tentará suicidar para o resto da vida.

FALSO

As pessoas que querem suicidar só se sentem assim durante um certo tempo. Naquele momento, ou desistem, ou pedem ajuda ou morrem.



2)Se uma pessoa tentar matar-se uma vez, é menos provável que volte a fazê-lo.

FALSO

Cerca de 80% dos suicídios ocorreram depois da pessoa já haver tentado contra a própria vida anteriormente. Isto acontece especialmente em jovens.



3)Se alguém tenta suicidar é claro que quer se matar.

AMBIVALENTE

Ambivalência é um sintoma marcante nas pessoas que tentam o suicídio. Muitos não querem morrer, querem apenas escapar de uma situação insuportável. Aqui há que se considerar interpretações feitas por psicólogos familiarizados com suicídio e hábeis no trato com o inconsciente. Aliás, a presença deste, se não foi solicitada quando o sujeito ainda não havia intentado contra sua vida, deverá ser feita agora, com urgência.

Observação importante: Não chamar psiquiatra, nem psicanalista (seguidores de Freud), ambos não entendem de processos inconscientes eclodindo agudamente: o primeiro por desconhecimento da alma humana em seus meandros mais obscuros, o segundo pela sua tendenciosidade à redução de todos os males a fatores parentais e sexuais (sic).



4)Não se deve perguntar a ninguém se estão pensando em suicidar-se. Se falarmos sobre suicídio eles podem pensar que devem se matar.

FALSO

Nós podemos pensar que é melhor não falar sobre suicídio com sujeitos que estão pensando em suicidar-se. Pelo contrário, conversando com eles,estimulamo-los a tratarem de certos assuntos indesejáveis e também a difundir a tensão. Se a escuta for séria, convincente e empática, estaremos demonstrando boa vontade e desejo sincero de ajudar.


5)Se uma pessoa que estava pensando em suicidar ou sentindo-se deprimida melhorou, normalmente significa que o problema já passou.

FALSO

Se alguém que estava pensando em se matar ou estava deprimido, de repente parece mais contente ou parece que tenha melhorado, não suponha que o problema já passou.   Uma pessoa que decidiu se matar, parece aliviada depois de ter tomado esta decisão (acomodação do estado tensional diante da tomada da decisão, apenas um ajustamento do ego à nova situação, a de pré-suicida. ALERTA)

E também, uma pessoa que esteja gravemente deprimida pode não ter energia suficiente para se matar... Quando recuperar em alguma medida suas energias poderá levar a cabo o intento. ALERTA.



6) Homens mais jovens correm mais o risco de se matarem.

VERDADEIRO

Em muitos paises é altíssima a taxa de suicídio entre 18 e 24 anos. 




7) As pessoas que dizem que vão se matar, nunca o fazem. É uma forma de desabafar.   Aqueles que realmente se matam nunca falam sobre o assunto, simplesmente suicidam.

FALSO

A maior parte das pessoas que suicidam ou falam sobre o assunto ou fazem qualquer coisa que indicam que elas vão se matar.




CONCLUSÃO


O suicídio é muitas vezes uma solução patológica para um angustiante problema que a pessoa considera intransponível, como o isolamento social, as dolorosas injustiças, ingratidões, maus tratos, violências psíquicas em vários níveis, um lar que se desfez durante a infância, situação altamente traumatizante, cuja ferida se arrasta numa dor insuportável e culmina mais tarde numa depressão gravemente patológica que conduz ao terminus da Vida; uma doença física grave, o desemprego, a toxicodependência, o envelhecimento que não se aceita, etc.

Além da grande parte da juventude profundamente desorientada, desmotivada, e precocemente envelhecida, cansada a nível psíquico de pressões ou abandonos que se têm acentuado ao longo dos últimos anos, também a incidência dos suicídios atinge em enorme percentagem os idosos, que se sentem em grande maioria abandonados, consideram-se inúteis, muitas vezes incapacitados, afetivamente solitários, já sem esperança … de Vida! No entanto insisto, tem-se observado mais notoriamente um aumento sensível da taxa de suicídios na população jovem.

Acerca do isolamento social alguém me consultou via Net sobre a incidência de suicídios em idosos numa média de 4 por semana, numa povoação relativamente pequena e um tanto isolada e pedia-me ajuda em orientação.



Na realidade lugares mais isolados em que a população é na maioria idosa, a solidão é duma angustia sufocante que arrasta a depressão grave. A comunicação do que cada um sente e pensa torna-se cada vez mais difícil, uma vida de rotina é uma constante, sem motivações que quebrem um dia a dia que se arrasta. Uma desesperada tristeza interior vai corroendo até ao verdadeiro desapego de Viver. Não só nas povoações solitárias existem estes sintomas psíquicos em idosos, nos grandes centros populacionais há vivências idênticas, e estas com consciência dos mais novos!

Alguém me pede para relacionar o suicídio com a esquizofrenia. Não me poderei debruçar tão longamente sobre a esquizofrenia como fiz no esclarecimento pedido, mas como acho de interesse geral e está dentro do tema suicídio, gostaria de transmitir o mais que me for possível.

A esquizofrenia é um agravamento de trágicos distúrbios da personalidade, como distúrbios da personalidade múltipla e distúrbios dissociativos, resultantes de uma mente dissociada; mas os mais vincados são os já mencionados atrás. É uma doença psiquiátrica, pertencente ao grupo das psicoses, incapacitante e de evolução prolongada. Atualmente é uma doença relativamente comum, pois anualmente registra-se um caso em cada mil pessoas.

Esta psicose atinge jovens entre 18 e 30 anos com alteração gradual e profunda do comportamento. Nos momentos de depressão mais grave são vítimas de uma desmotivação de Vida insuportável, e torna-se obsessiva a idéia da morte.

Nunca aceitam a sua realidade, e são os familiares e os que estão vivendo mais perto, os culpados segundo a sua mente tão perturbada, levando-os a odiar a quem na realidade mais dependem, como pais ou mulher com quem vivem. O suicídio é cada vez mais freqüente no esquizofrênico e em maior percentagem ainda no início da doença.


O suicídio efetivo é mais freqüente entre homens, embora as tentativas de suicídio sejam mais comuns entre as mulheres. O estado civil é também um indicador importante: o suicídio é mais comum entre os 



indivíduos divorciados, em que os distúrbios da personalidade se acentuam com os mais ou menos graves conflitos psíquicos e intrapsíquicos, seguido de solteiros, muitas vezes com sofridas frustrações nas buscas sentimentais como único sentido de Vida; e também é vulgar o suicídio nos viúvos. É mais raro entre os casados.

Uma das falsas crenças referentes ao suicídio, sustenta que as pessoas só falam antecipadamente dele quando não estão em risco de o cometer mas na realidade muitas pessoas que se suicidam ameaçam com frequência que tencionam fazê-lo. Os familiares e os amigos devem levar a sério essas ameaças.

Os suicidas sentem-se sempre e invariavelmente desesperadamente incompreendidos e sós, mesmo rodeados de gente, defasados e desencontrados de si mesmos, inadaptados e profundamente frustrados e desiludidos.

Se encontrarem alguém com quem tenham a oportunidade de falar num gritante desabafo dum sufoco insustentável, que os escute, os compreenda e lhes mostre a Vida com carinho é por vezes suficiente para evitar o ato.

A seguir a uma ameaça de suicídio, a família e os amigos devem sutilmente eliminar todos os meios óbvios de o cometer e proceder a uma vigilância disfarçada sobre a pessoa. Não se podem considerar essas ameaças chamamentos de atenção. Por vezes pode seguir-se uma tentativa de suicídio.

É considerada tentativa de suicídio qualquer ato não fatal de automutilação, autolesionamento ou de auto-envenenamento (parasuicídio). A intenção da morte não deve ser incluída na definição, pois não é muitas vezes manifestada; a gravidade da tentativa de suicídio deve antes ser relacionada com a "potencialidade autodestrutiva" (letalidade) do método utilizado e com a probabilidade de uma intervenção salvadora de terceiros (intencionalidade).





Assim, muitas tentativas de suicídio (também chamadas parasuicídios) desenrolam-se num contexto onde é previsível ou possível o socorro, pelo que devem ser consideradas no mínimo, como gritos desesperados de socorro emitidos por pessoas em extrema aflição.

As pessoas que fazem tentativas de suicídio constituem um grupo sociologicamente diferente do daquelas que de fato se suicidam.

A tentativa de suicídio é três vezes mais comum nas mulheres que nos homens e atinge a sua incidência máxima entre os 15 e 30 anos em pessoas solteiras ou divorciadas.

O maior risco verifica-se em pessoas que vivem em Zonas urbanas pobres, em indivíduos com distúrbios de personalidade e entre alcoólicos e toxicodependentes.

O que origina mais normal e vulgarmente o ato são separações do parceiro sexual, a morte dum ente querido, preocupações financeiras, e outras situações que conduzam a depressões.

Todas as tentativas de suicídio devem ser encaradas com seriedade, pois das pessoas que tentam suicidar-se 20 a 30% fazem nova tentativa dentro de meses e 10% acabam por matar-se.

A base do tratamento consiste em providenciar apoio imediato, ajudar a pessoa a resolver as dificuldades que precipitaram a tentativa e só depois tratar a depressão ou outro distúrbio mental subjacente.