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Itacaré , Bahia, Brazil
Nesse blog, vou apresentar uma serie de estudos, textos, pesquisas e vivências que fazem parte do meu transito molecular, comumente chamado de vida. Iniciado no Budismo Vajrayana (Tibetano) aos 20 anos. Praticante de Iai do (4º Dan) .Graduado em Psicologia (UFMG - 11980) com formação em Psicologia Analítica. Socorrista (SAR) com especialização em resgate com helicóptero, em caverna e altura. Negociador junto a organizações militares em MG de suicídio com e sem armas letais, sequestro e cárcere privado. Clínica psicológica ininterrupta desde graduação. Amante da vida natural, moro em meio à Mata Atlântica na Bahia.
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quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

Por que Arte de Morrer com Elegância.


Simples.


Tudo está morrendo.


A vida é o que acontece enquanto se morre.


No momento mesmo que nascemos, temos idade suficiente para morrermos.


Diferentemente do pensamento oriental, para ser mais preciso, do Budismo Tibetano, o pensamento ocidental considera, de uma forma piegas, que apenas velhos e doentes morrem, e tratam a morte como uma grande inimiga.


De fato, a morte permeia todos os eventos vivos. O gerúndio que deveríamos usar seria: estamos morrendo e não, estamos vivendo. Toda a questão se resume em se vamos morrer com elegância ou não.


Sociedades antigas e outras tantas que mantêm vivos rituais iniciáticos, lidam com a morte como a companheira do cotidiano. A morte é vista como inerente e natural à todo organismo que nasceu.

 E esse contraste se acentua quando perguntamos para o homem comum, moderno, o que se opõe à morte ele responde de pronto: a vida..e aqui está o erro; o que se opõe à morte é o nascimento; insisto: A vida é o que acontece enquanto se morre!


Os rituais de iniciação têm por, princípio orientador, promover a morte do iniciado de um determinado estágio de vida para outro posterior. O nome muda, as orientações para o cotidiano mudam, o status pessoal muda, as funções e tarefas mudam; o iniciado já não pertence àquela vida anterior, está morto para ela. E isso interessa à alma e a acalma, dando ordem e sentido.


Esta ansiedade existencial pertence ao homem que não foi iniciado nos grande mistérios da existência, pertence àquele que embota os sentidos com o mundo exterior e olvida as mensagens cotidianas da impermanência. Cria teorias e princípios mirabolantes para burlar esse grande acontecimento. Outras espécies animais têm medo e temor da morte , e assim deveria ser como princípio orientador para nós humanos, apenas permitirmos que a nossa morte nos oriente e nos diga como evitarmos a deselegância de morremos num desastre de automóvel ou atropelados pelo evitável.


Por quatro décadas trabalhando num consultório, escutando os medos e as angústias do homem, e por maior período de tempo trabalhando como socorrista (SAR) e negociando sequestro e suicídio, pude ficar frente a frente com “mementos mori” e podia ver a tragédia se desenrolar em câmera lenta, terrificante. Mas aprendia tremendamente com esse aliado poderoso, naqueles momentos limítrofes, fascinante.


Muitos são os autores que escreveram sobre a morte e o morrer, mas poucos são os que abordam o morrer de uma perspectiva pacífica, calma, destemida. Tudo indica fazer parte da história do homem esse medo atávico, tremendo.


Mas vamos lá continuar tentando ofertar um novo paradigma.


Chamo em meu auxílio alguns autores com os quais ombreio:


“O que é natural à Espécie nem sempre o é para o indivíduo” 

(Jon Donne: Biathanathos: Uma declaração deste Paradoxo ou tese, a saber, que o Auto-Homicídio não é tanto um Pecado Natural, pois que nunca pode ser de outro modo. 1644)


“Não há senão um único problema filosófico sério: é a questão do suicídio. Julgar se a vida vale ou não a pena de ser vivida equivale responder à questão fundamental da filosofia. Todo o resto…dai decorre. Esses são jogos; deve-se primeiro dar uma resposta.” 

(Albert Camus: The Myth of Sisyphus, 1942)


“A despeito das aparências em contrário, o estabelecimento da ordem e da dissolução do que foi estabelecido na realidade estão além do controle humano. O segredo é que apenas o que pode destruir-se a si mesmo está realmente vivo.”

(C.G.Jung: Psychology and Alchemy, 1944)


“Não deveríamos confessar que em nossa atitude civilizada face à morte estamos mais uma vez vivendo psicologicamente além de nossas posses e precisamos corrigir-nos, dando à verdade o que lhe é devido?

Não seria melhor dar à morte, tanto na realidade como em nossos pensamentos, o lugar que a ela pertence de direito e conceder um pouco mais de preeminência àquela atitude inconsciente em relação à morte que até agora tão cuidadosamente suprimimos?…

Si vis vitam, para mortem. Se queremos enfrentar a vida, devemos estar preparados para a morte.”

(Sigmund Freud: Thoughts on War and Dead, 1915)


“Oh! Constrói teu barco da morte, não te demores e constrói com amor e deixa-o entre as mãos de tua alma.”

(D.H.Lawrwnce: Ship of Death, MS. B.)



“Pelo fato de a análise ser uma consideração sobre o viver, ocupa-se com questões de morte. Proporciona a intensa situação humana onde se podem focalizar questões essenciais, tornando-se, assim, um paradigma de vida. Tudo é desnudado dentro de uma pequena sala, entre duas pessoas, em segredo e no vácuo. Este é o lugar dos tópicos sinistros, porque a análise (profunda) é uma atividade mais da mão esquerda que da direita. Ela diz respeito a um tabu e está colocada dentro de um tabu que lhe é próprio.

Objetivo da adaptação social pertence à mão direita, ao aconselhamento consciente; a análise, porém, inclui igualmente a esquerda. Ela revela o homem inferior, no seu aspecto canhestro e sinistro, para quem o suicídio é uma questão real. A análise oferece à mão esquerda uma oportunidade de viver conscientemente sua própria vida, sem ter a mão direita por juiz, encarando o que ela faz. A mão direita não pode nunca conhecer a mão esquerda, apenas interpretá-la e traduzi-la.”

(James Hillman, Suicidio e Alma, 1993)