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Itacaré , Bahia, Brazil
Nesse blog, vou apresentar uma serie de estudos, textos, pesquisas e vivências que fazem parte do meu transito molecular, comumente chamado de vida. Iniciado no Budismo Vajrayana (Tibetano) aos 20 anos. Praticante de Iai do (4º Dan) .Graduado em Psicologia (UFMG - 11980) com formação em Psicologia Analítica. Socorrista (SAR) com especialização em resgate com helicóptero, em caverna e altura. Negociador junto a organizações militares em MG de suicídio com e sem armas letais, sequestro e cárcere privado. Clínica psicológica ininterrupta desde graduação. Amante da vida natural, moro em meio à Mata Atlântica na Bahia.
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quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

Para compreendermos o suicídio






MARCUS VINICIUS MOREIRA DE ASSUMPÇÃO




PSICÓLOGO CLÍNICO

ESPECIALISTA EM STRESS TRAUMÁTICO E PTSD

(DESORDEM DE STRESS PÓS-TRAUMÁTICO)




Revision Millenium 

 Divisão de Psicologia Aplicada e Gerenciamento de Desastres











O que entendemos por suicídio?



É a ação de suprimir a própria vida de forma voluntária e premeditada. Significa, pois, matar a si mesmo (redundância).



Suicídio - definições

O suicídio é...

                "... um ato de heroísmo." (Sêneca)


               "... um ato próprio da natureza humana e, em cada época, precisa ser repensado." (Goethe)


               "... a destruição arbitrária e premeditada que o homem faz da sua natureza animal." (Kant)


               "... uma violação ao dever de ser útil ao próprio homem e aos outros." (Rosseau)


               "... admitir a morte no tempo certo e com liberdade." (Nietzsche)


               "... uma fuga ou um fracasso." (Sartre)


               "... a positivação máxima da vontade humana." (Schopenhauer)


               "... todo o caso de morte que resulta direta ou indiretamente de um ato positivo ou negativo praticado pela própria vítima, ato que a vítima sabia dever produzir este resultado." (Durkheim)

 
          Definições teóricas se alternam, se complementam,  se contradizem: as reticências, ou mesmo um ponto de  interrogação, permanecem em desafio a uma resposta definitiva e exata. 


Não há uma única resposta porque o caminho do suicídio é o da ambigüidade. Nele vida e morte se encontram, se complementam, se contradizem, repetindo este movimento infinitamente como as definições do próprio termo em torno de ódio e amor, coragem e covardia, etc. Mesmo afirmativas que parecem inquestionáveis, como a de que o suicídio é resultado de angústia e sofrimento, não valem para todos os países e se tornam absurdas quando se estudam os casos de suicídio em países orientais. 

É comum os estudiosos do suicídio serem acusados de defendê-lo e incentivá-lo, sem considerar de maneira mais humana o drama de quem vive com suicidados na família ou com o suicídio dentro de si mesmo. A tais acusações, cabe responder que é preciso chamar a sociedade a assumir parte da responsabilidade com os suicidados o que não significa defendê-los e nem incentivar o ato suicida, mas a discussão é rica justamente porque o drama vida/morte é vivido por todos nós com nossas reflexões carregadas de sentimentos. 


Suicídio - aspectos psicossociais e um pouco de história                           

          É difícil precisar quando o primeiro suicídio ocorreu, mas ele parece estar sempre presente na história da humanidade. A  Enciclopédia Delta de História Geral registra  que, em um ritual no ano 2.500 a.C., na cidade de Ur, doze pessoas beberam uma bebida envenenada e se deitaram para esperar a morte. Recorrendo a livros religiosos como a Bíblia, por exemplo, é possível também encontrar os registros de alguns suicidados famosos - Sansão, Abimelec, Rei Saul, Eleazar e Judas.

 
          O suicídio de pessoas famosas foi sendo registrado, porém a história oficial ignorou os inúmeros cidadãos comuns suicidados. No entanto, historicamente, é possível constatar a maneira como a sociedade tratou os 




suicidados e como este tratamento foi se alternando, cabendo observar, com especial atenção, o suicídio enquanto questão política tratada de diferentes maneiras pelo Estado.

 
          Na Antiga Grécia, um indivíduo não podia se matar sem prévio consenso da comunidade porque o suicídio constituía um atentado contra a estrutura comunitária. O suicídio era condenado politicamente ou juridicamente. Eram recusadas as honras de sepultura regular ao suicidado clandestino e a mão do cadáver era amputada e enterrada a parte. Por sua vez, o Estado tinha poder para vetar ou autorizar um suicídio bem como induzi-lo. Por exemplo, em 399 a.C., Sócrates foi obrigado a se envenenar.

 
          Em outras culturas do primitivo mundo ocidental, era dever do ancião se matar para preservar o grupo cuja solidez estava ameaçada pela debilitação do espírito que habitava o corpo do chefe de família. Ocorria  "(...) uma franca indução comunitária ao suicídio, religiosamente estimulada e normativamente legitimada." (Kalina e Kovadloff, l983, p. 50)

 
          No Egito, se o dono dos escravos ou o faraó morriam, eram enterrados com seus bens e seus servos, os quais deixavam-se morrer junto ao cadáver do seu amo. Também no Egito, desde o tempo de Cleópatra, o suicídio gozava de tal favor  que se fundou a Academia de Sinapotumenos que, em grego, significa "matar juntos".

 
          Em Roma, como em Atenas, adotou-se em relação ao suicídio atitudes diferentes, legitimando a morte do senhor que se matava e condenando a morte do escravo suicidado. O senhor, um homem livre, ao se matar, exercia sobre si mesmo o direito próprio de sua condição social, amparado no espaço político pela lei pública. 




O escravo, porém, matando-se, ia contra a autoridade do senhorio, contestando seu poder e diminuindo seu capital, o que era contra a lei familiar predominante no espaço doméstico. O gesto suicida, glorificado no cenário político, era condenado quando se tratava de um escravo porque o valor do ato era inseparável da condição social do indivíduo. 

Entretanto, ao matar-se, a denúncia do escravo ia além da sua condição social e além do espaço doméstico porque colocava em xeque os valores universais de liberdade e justiça, os quais aparentavam ser exclusivos do seu senhor quando este lutava na defesa de sua cidade e de seus privilégios. 

De fato, é em defesa de liberdade e justiça, que Catão, chefe de clã, comete suicídio para se opor ao poder soberano de César. Mata-se para servir às leis e às liberdades da República contra a morte delas  - pelo menos as da aristocracia senatorial - imposta pelo Império Romano. 

O suicídio de Catão não  se constitui   em um ato que prejudica a estrutura comunitária, como afirmava  Aristóteles, mas em um ato de quem permanece fiel à sua comunidade. No Império, o Estado torna-se propriedade privada de César, onde os cidadãos são agora súditos livres para agir, mas não tão livres para morrer porque podem ter os bens confiscados em favor do Estado, penalidade esta aplicável aos militares e aos condenados ou detentos a espera de julgamento que suicidassem, desde que seus herdeiros não conseguissem demonstrar sua inocência.

 
          Se quatro séculos antes e quatro séculos   depois de Cristo  o suicídio é ora tolerado ora reprimido, sua reprovação vai se reforçando durante os primeiros séculos da era cristã até que seja totalmente condenado no século V por Santo Agostinho e pelo Concílio de Arles (452 d.C.), seguido depois pelos de  Orleans, 




Braga, Toledo, Auxerre, Troyes, Nimes, e culminando com a condenação expressa de todas as formas de suicídio no "Decret de Gratien", um compêndio de direito canônico do século XIII. Na Idade Média cristã, o suicídio é condenado teologicamente. 

A Europa cristã acaba com as diferenças entre o suicídio legal e ilegal: matar-se era atentar contra a propriedade do outro e o outro era Deus, o único que criou o homem e quem, portanto, deveria matá-lo. A vida do indivíduo deixa de ser um patrimônio da comunidade para ser um dom divino e matar-se equivale a um sacrilégio. O suicidado não tem direito aos rituais religiosos, seus herdeiros não recebem os bens materiais e seu  cadáver  é castigado  publicamente, podendo ser  exposto nu ou queimado. Os suicidados são igualados aos ladrões e assassinos e o Estado e a Igreja fazem tudo para combater os suicídios.

 
         
A sociedade foi reprimindo o suicídio até a Revolução Francesa, a qual aboliu as medidas repressivas contra a prática do suicídio, o que para Kalina e Kovadloff(1983) significou que a conduta suicida deixou de comprometer a estabilidade do Estado. O suicídio assumiu, assim, um caráter que oscila entre o quase clandestino, ou francamente clandestino, e o patológico. É um gesto solitário, dissimulado, uma transgressão. Eles escreveram:

 
"Entre a pessoa e a comunidade começou a se abrir, em meados do século XVIII, uma distância que duzentos anos mais tarde terminará constituindo as múltiplas formas de incomunicação contemporânea. Por isso, mais que um ato de indulgência estatal frente ao indivíduo, deve-se ver nesta liberalização progressiva das normas punitivas com respeito ao suicídio uma expressão de irrelevância social que começa a pesar sobre a pessoa. Ou seja, não se contempla o suicídio com tolerância porque se o compreende, mas porque já não se lhe atribui maior transcendência coletiva." (Kalina e Kovadloff, l983, p. 54)

 
       


O estudo de Durkheim(1987), analisando os suicídios ocorridos no século passado, tornou-se obra clássica da sociologia por chamar a atenção sobre a significação social do suicídio pessoal - o suicídio é uma denúncia individual de uma crise coletiva. Já o estudo de Kalina e Kovadloff merece destaque porque parte  da  premissa de que em cada sujeito que se mata fracassa uma proposta comunitária. 

Eles analisam a sociedade atual com clara intenção de entender o suicídio como existência tóxica. A existência tóxica é a vida vivida de forma que o ser humano esteja se matando no cotidiano, todos se matando em comum acordo  através de uma maneira de viver perigosa para a saúde. Uma existência tóxica é uma vida envenenada porque vive daquilo que a aniquila, promove e perpetua a alienação humana  e fomenta o apoio às contradições que a destrõem. Para tanto, multiplicam-se as condutas autodestrutivas como o armamento nuclear, a contaminação do planeta e, até mesmo, a despersonificação urbana do homem contemporâneo. Enquanto na concepção clássica  o suicídio é o ponto final de um processo, Kalina e Kovadloff(1983) afirmam que o suicídio é o processo em si mesmo.

 
          O fato é que, apesar da Revolução Francesa ter abolido as medidas repressivas contra a prática do suicídio, aparentando que a conduta suicida não compromete a estabilidade do Estado, uma observação primeira da relação suicidado-sociedade indica que há um movimento social organizado de prevenção ao suicídio, o qual mobiliza os poderosos meios de comunicação modernos e instituições como, por exemplo, o CVV-Centro de Valorização da Vida. Ou seja,  há um confronto latente na complexa estrutura social moderna  entre dois movimentos: o dos suicidados e outro que se lhe opõe.

 
          





Partindo do pressuposto que o suicídio é um processo em si mesmo que não termina com a morte e, ainda, que o suicídio é um gesto de comunicação entende-se que o indivíduo se mata para relacionar-se com os outros e não para ficar só ou desaparecer. A morte é o único meio que o sujeito encontra para restabelecer o elo de comunicação com os outros.

 
          Fernando Sabino(1986), na crônica intitulada "Suíte Ovalliana", conta que Jayme Ovalle, questionado a respeito do suicídio, disse: "É um ato de publicidade: a publicidade do desespero."(p. 144) Desde dezembro de 1990, a publicidade do desespero dos índios guaranis de 16 a 22 anos, em Mato Grosso do Sul, ocupa as páginas dos  jornais brasileiros, obrigando as autoridades governamentais a se interessarem  por esta crescente onda de suicídios por enforcamento e por ingestão de veneno.

 
          A questão a ser discutida é: não é o suicídio um gesto de comunicação, a transmissão de uma mensagem individual para a sociedade? A resposta violenta do suicidado é sua busca em comunicar-se, transformando-se,  porque a sociedade não lhe permitiu antes que o fizesse. Quando lhe foi impossibilitado comunicar-se, cortaram-lhe também sua influência sobre a sociedade, a qual se restabelece através de seu gesto suicida, mesmo que não seja uma pessoa famosa.
          Note-se que o termo "suicida" não clarifica qual é a condição do indivíduo. Por isto, é preciso fazer uma distinção entre os termos "suicidando" - aquele que ameaça e/ou tenta suicídio e que pode ser chamado de ameaçador ou tentador; e "suicidado" - aquele que efetivamente se matou.

 
          O suicidado pratica um ato de comunicação e não um gesto solitário e que, além de tudo, é uma comunicação para uma sociedade que o impede de comunicar-se de outras formas que não seja através deste gesto.





Diferenciações:


Suicídio frustrado: Ação de suicídio que não foi consumado, tendo o indivíduo autêntica intenção de chegar a ele.

Suicídio consumado: É o intento que teve êxito tendo como expressão o autêntico desejo suicida ou como uma casualidade não desejada dentro do comportamento suicida.

Condutas suicidas:  São as encaminhadas para conseguir este fim, consciente ou inconscientemente.

Simulação de suicídio: É a ação que não chega a seu fim, por não existir autentica intenção de se chegar a ele. (Baixa ou ausência de intencionalidade).

Risco de suicídio: É a possibilidade de que um indivíduo atente deliberadamente contra sua vida. Dito risco se incrementa se existe a idéia de menosvalia da vida, desejo de morte por considerá-la um descanso, ameaças e tentativas de suicídio prévias.


Parasuicídio:


O parasuicídio ou lesão deliberada seria o conjunto de condutas onde o sujeito de forma voluntária e intencional se induz danos físicos, cuja consequência é a dor, desfiguração ou dano de alguma função ou parte de seu corpo, sem a intenção aparente de matar-se. Incluímos nesta definição as autolacerações (como corte nos pulsos), autoenvenenamentos (ou sobredosagens medicamentosas) e as autoqueimaduras.








Qual é a dimensão do problema em cifras?


A nível mundial, as cifras de autolesões se estimam entre 3-5% da população maior de 16 anos, incluídos suicídios consumados.


A cifra anual da União Européia é de 800 a 1000 casos por 100.000 habitantes/ano.

De 15 a 30% dos sujeitos que se autolesionam repetem a conduta antes de 1 ano e entre esses 1 a 2% suicidaram-se entre 5 e 10 anos da tentativa inicial.

Diariamente se produzem no mundo entre 8.000 a 10.000 intentos de suicídio, dos quais 1000 conseguem.

Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), o suicídio seria a décima causa de morte nos países civilizados.



Quais são os principais fatores de risco pessoais e demográficos para o suicídio?


Transtornos psiquiátricos: Em mais de 90% dos casos existe enfermidade psiquiátrica concomitante (comorbidade).


Por ordem de frequência temos:

- Transtornos do estado anímico: O risco fica entre 15 e 20%, sendo a depressão maior e os quadros de psicose maníaco-depressivas.

É menos freqüente na primeira fase de queixas afetivas.





Abuso de substâncias psicoativas: Denominam-se assim porque produzem, enganosamente uma sensação psíquica muito agradável. Concretamente o alcoolismo, é o segundo diagnóstico psiquiátrico mais freqüente, a taxa de suicídios é de 15%. 

A incidência é algo menor em outras toxicomanias (10%), como o consumo de canabis, opiáceos e cocaína.


- Esquizofrenia: Estado mental caracterizado por uma alteração  profunda do pensamento, da afetividade e uma percepção desorganizada e alterada da realidade. Existe aqui um risco de aproximadamente 15%. Se associa à atividade alucinatória (escuta de vozes que não são reais e que lhes impulsiona ao suicídio) e à depressão. Ocorre com freqüência em jovens nos primeiros quatro anos da enfermidade e associado às repetidas agudizações da mesma.

- Transtornos da personalidade borderline, que se caracteriza pela diminuição do coeficiente intelectual, depressão e abuso de drogas ou álcool.

- Síndromes mentais orgânicos (10% do numero total): onde se incluem a demência e o Mal de Parkinson, fundamentalmente.



História de Intentos e Ameaças:


Entre 25 e 50% dos atos consumados possuem história conhecida de tentativas prévias. Existe uma tendência a repetir os mesmos gestos suicidas. 







Quanto à idade: 


São grupos de alto risco os jovens e os anciãos. O restante se distribui de forma aleatória nas outras faixas etárias.

No homem a frequência aumenta com a idade, com uma incidência máxima ao redor dos 75 anos. Os homens  consumam o suicídio de duas a três vezes mais que as mulheres.

Nas mulheres a idade de maior incidência está localizada entre 55 e 65 anos e, nesta faixa etária, intentam de duas a três vezes mais que os homens.



Fatores Sociais:


Estado civil: Solteiros, viúvos, separados e divorciados. Viver só, perda ou fracasso de uma relação amorosa no último ano.

Lugar de residência: Mais em meio urbano.

Perda do rol o status social, marginalidade recente.

Desemprego ou trabalho não qualificado.

Problemática social, familiar ou de trabalho grave.

Ateus. (sem religião definida)



Fatores Sanitários:



Aproximadamente em 50% dos intentos observa-se a deficiência física, destacando-se a dor crônica, as enfermidades terminais (câncer, AIDS: 4% do total) e as intervenções cirúrgicas ou diagnóstico recente de lesões invalidantes e deformantes.





Quais são os principais fatores de risco pessoais ou demográficos para autolesões de intenção não suicida e que podem evoluir para suicídio consumado?


Conflitos pessoais e problemas vitais estressantes nos seis meses anteriores às autolesões. Soem ser problemas de relação com sócios, cônjuges ou familiares. Muitos apresentam alterações de comportamento que não chegam a representar transtorno psiquiátrico definido.


Idade e sexo: Mais freqüente entre 20 e 30 anos. Diminui claramente na meia idade. Afeta mais a mulheres que a homens (duas vezes mais).

Antecedentes familiares: Suicídios familiares e atos autolesivos na família, história de abuso familiar, consumo de álcool e/ou drogas nos pais e morte recente destes.

Fatores sociais: Desemprego, baixa classe social, estado civil solteiro ou divorciado.



Que recomendações devem ter sempre presentes os familiares, amigos ou companheiros de trabalho de pessoas depressivas ou com idéias suicidas?


Levar a sério todas as ameaças.

Considerar a possibilidade de suicídio em todo sujeito que manifesta forte sensação de desamparo ou desesperança: “Não tenho saída para os meus problemas!!!”

Estar atento às mudanças de ânimo ou melhora repentina da depressão: “Alívio secundário à sua firme decisão de suicídio”.

Indagar-se sobre o risco e pensar seriamente sobre todo sujeito que apresenta acidentes freqüentes e consumo reiterado de drogas ou álcool.

Considerar seriamente a possibilidade em pessoas que hajam sofrido acontecimentos traumáticos prévios: luto recente, perdas e outros acontecimentos vitais estressantes. 



Como devemos atuar diante de uma pessoa que queira se suicidar?


Mostrar empatia, com atitude tranqüila e não-crítica. Não mostrar nervosismo em hipótese nenhuma. Tratamento cortês e compreensivo/colaborativo.

Retirar todos os meios lesivos que possam estar ou vir a ficar ao alcance do sujeito.

Não introduzir nenhum fato, objeto ou personagem novo à cena onde se desenrola a conversação (que em última análise, é sempre uma negociação).

Não evitar o tema (suicídio). Perguntar sobre o desejo de morrer não propicia ou elicia o suicídio.

Se o sujeito sente alívio ao ser perguntado ou ao expressar seus sentimentos íntimos, podemos insistir nesta linha de conversação,caso contrário há que se considerar a mudança de estratégia. Perguntas que devem ser consideradas como um termômetro para continuação da conversação: 

“Se sente mal, muito preocupado e inclusive desesperado?”

“Em alguma ocasião houve desejo de deixar de viver?” (há que se observar aqui a estratégia de dissociação cognitiva: não falamos em desejo de suicidar, mas introduzimos a possibilidade do viver, com a fórmula: “deixar de viver”)

Tem pensado em fazer dano a si mesmo?


De todo modo, enfatizo não insistir com o convencimento do sujeito a não tentar o suicídio.





DESTACANDO:


Sintomas que indicam suicídio

Quem vai suicidar raramente toma essa decisão de repente. Nos dias e nas horas antes das pessoas se matarem, normalmente há sintomas e coisas que indicam suicídio.

Os indícios mais fortes e perturbadores são verbais – “eu desisto”, “já não me importo mais” ou mesmo “estou pensando em terminar tudo”. Tais comentários devem-se tomar sempre a sério.


Outros sintomas comuns:

Deprimido ou taciturno.

Indiferente 

Pôr os negócios em ordem e dar as coisas de estimação 

Mudança de comportamento, atitude ou aparência 

Abuso de drogas e bebidas alcoólicas 

Sofrer muito prejuízo ou alteração no modo de vida 

Oferecer objetos ou bens pessoais valiosos

A seguinte lista tem mais exemplos que podem ser sintomas de alguém que está a contemplar o suicídio. Claro que, na maior parte dos casos estas situações não causam o suicídio. Mas, geralmente, quanto mais sintomas um indivíduo tem mais risco corre.




Situações


Abuso físico ou sexual.


É de família (o suicídio e a violência).


Morte de um amigo ou de um familiar.


Mau aproveitamento escolar, perto dos exames, notas.


Desemprego, problemas no trabalho.


Ação no tribunal está próxima.


Preso recentemente ou à espera de ser solto.




Comportamento


Chora.


Briga.


Transgride as leis.


Impulsividade.


Automutilação.


Escreve acerca da morte e do suicídio.


Tentou-se suicidar anteriormente.


Comportamento extremo.


Mudança de comportamento.




Mudanças Físicas


Falta de energia.


Sono – dorme pouco ou demais.


Falta de apetite.


Engorda ou emagrece muito.


Começa a andar sempre adoentado.


Mudança de aparência repentina.


Falta de interesse na aparência pessoal.



Pensamentos e Emoções


Pensa em suicidar-se.


Solidão – falta de apoio da família e dos amigos.


Rejeição, sente-se marginalizado.


Sente-se muito triste ou culpado.


Incapaz de ver além do foco restrito.


Devaneia.


Ansiedade e fadiga.


Desamparado.


Falta de dignidade.



Alguns mitos sobre o suicídio.


1)Quando uma pessoa pensa em suicidar, tentará suicidar para o resto da vida.

FALSO

As pessoas que querem suicidar só se sentem assim durante um certo tempo. Naquele momento, ou desistem, ou pedem ajuda ou morrem.



2)Se uma pessoa tentar matar-se uma vez, é menos provável que volte a fazê-lo.

FALSO

Cerca de 80% dos suicídios ocorreram depois da pessoa já haver tentado contra a própria vida anteriormente. Isto acontece especialmente em jovens.



3)Se alguém tenta suicidar é claro que quer se matar.

AMBIVALENTE

Ambivalência é um sintoma marcante nas pessoas que tentam o suicídio. Muitos não querem morrer, querem apenas escapar de uma situação insuportável. Aqui há que se considerar interpretações feitas por psicólogos familiarizados com suicídio e hábeis no trato com o inconsciente. Aliás, a presença deste, se não foi solicitada quando o sujeito ainda não havia intentado contra sua vida, deverá ser feita agora, com urgência.

Observação importante: Não chamar psiquiatra, nem psicanalista (seguidores de Freud), ambos não entendem de processos inconscientes eclodindo agudamente: o primeiro por desconhecimento da alma humana em seus meandros mais obscuros, o segundo pela sua tendenciosidade à redução de todos os males a fatores parentais e sexuais (sic).



4)Não se deve perguntar a ninguém se estão pensando em suicidar-se. Se falarmos sobre suicídio eles podem pensar que devem se matar.

FALSO

Nós podemos pensar que é melhor não falar sobre suicídio com sujeitos que estão pensando em suicidar-se. Pelo contrário, conversando com eles,estimulamo-los a tratarem de certos assuntos indesejáveis e também a difundir a tensão. Se a escuta for séria, convincente e empática, estaremos demonstrando boa vontade e desejo sincero de ajudar.


5)Se uma pessoa que estava pensando em suicidar ou sentindo-se deprimida melhorou, normalmente significa que o problema já passou.

FALSO

Se alguém que estava pensando em se matar ou estava deprimido, de repente parece mais contente ou parece que tenha melhorado, não suponha que o problema já passou.   Uma pessoa que decidiu se matar, parece aliviada depois de ter tomado esta decisão (acomodação do estado tensional diante da tomada da decisão, apenas um ajustamento do ego à nova situação, a de pré-suicida. ALERTA)

E também, uma pessoa que esteja gravemente deprimida pode não ter energia suficiente para se matar... Quando recuperar em alguma medida suas energias poderá levar a cabo o intento. ALERTA.



6) Homens mais jovens correm mais o risco de se matarem.

VERDADEIRO

Em muitos paises é altíssima a taxa de suicídio entre 18 e 24 anos. 




7) As pessoas que dizem que vão se matar, nunca o fazem. É uma forma de desabafar.   Aqueles que realmente se matam nunca falam sobre o assunto, simplesmente suicidam.

FALSO

A maior parte das pessoas que suicidam ou falam sobre o assunto ou fazem qualquer coisa que indicam que elas vão se matar.




CONCLUSÃO


O suicídio é muitas vezes uma solução patológica para um angustiante problema que a pessoa considera intransponível, como o isolamento social, as dolorosas injustiças, ingratidões, maus tratos, violências psíquicas em vários níveis, um lar que se desfez durante a infância, situação altamente traumatizante, cuja ferida se arrasta numa dor insuportável e culmina mais tarde numa depressão gravemente patológica que conduz ao terminus da Vida; uma doença física grave, o desemprego, a toxicodependência, o envelhecimento que não se aceita, etc.

Além da grande parte da juventude profundamente desorientada, desmotivada, e precocemente envelhecida, cansada a nível psíquico de pressões ou abandonos que se têm acentuado ao longo dos últimos anos, também a incidência dos suicídios atinge em enorme percentagem os idosos, que se sentem em grande maioria abandonados, consideram-se inúteis, muitas vezes incapacitados, afetivamente solitários, já sem esperança … de Vida! No entanto insisto, tem-se observado mais notoriamente um aumento sensível da taxa de suicídios na população jovem.

Acerca do isolamento social alguém me consultou via Net sobre a incidência de suicídios em idosos numa média de 4 por semana, numa povoação relativamente pequena e um tanto isolada e pedia-me ajuda em orientação.



Na realidade lugares mais isolados em que a população é na maioria idosa, a solidão é duma angustia sufocante que arrasta a depressão grave. A comunicação do que cada um sente e pensa torna-se cada vez mais difícil, uma vida de rotina é uma constante, sem motivações que quebrem um dia a dia que se arrasta. Uma desesperada tristeza interior vai corroendo até ao verdadeiro desapego de Viver. Não só nas povoações solitárias existem estes sintomas psíquicos em idosos, nos grandes centros populacionais há vivências idênticas, e estas com consciência dos mais novos!

Alguém me pede para relacionar o suicídio com a esquizofrenia. Não me poderei debruçar tão longamente sobre a esquizofrenia como fiz no esclarecimento pedido, mas como acho de interesse geral e está dentro do tema suicídio, gostaria de transmitir o mais que me for possível.

A esquizofrenia é um agravamento de trágicos distúrbios da personalidade, como distúrbios da personalidade múltipla e distúrbios dissociativos, resultantes de uma mente dissociada; mas os mais vincados são os já mencionados atrás. É uma doença psiquiátrica, pertencente ao grupo das psicoses, incapacitante e de evolução prolongada. Atualmente é uma doença relativamente comum, pois anualmente registra-se um caso em cada mil pessoas.

Esta psicose atinge jovens entre 18 e 30 anos com alteração gradual e profunda do comportamento. Nos momentos de depressão mais grave são vítimas de uma desmotivação de Vida insuportável, e torna-se obsessiva a idéia da morte.

Nunca aceitam a sua realidade, e são os familiares e os que estão vivendo mais perto, os culpados segundo a sua mente tão perturbada, levando-os a odiar a quem na realidade mais dependem, como pais ou mulher com quem vivem. O suicídio é cada vez mais freqüente no esquizofrênico e em maior percentagem ainda no início da doença.


O suicídio efetivo é mais freqüente entre homens, embora as tentativas de suicídio sejam mais comuns entre as mulheres. O estado civil é também um indicador importante: o suicídio é mais comum entre os 



indivíduos divorciados, em que os distúrbios da personalidade se acentuam com os mais ou menos graves conflitos psíquicos e intrapsíquicos, seguido de solteiros, muitas vezes com sofridas frustrações nas buscas sentimentais como único sentido de Vida; e também é vulgar o suicídio nos viúvos. É mais raro entre os casados.

Uma das falsas crenças referentes ao suicídio, sustenta que as pessoas só falam antecipadamente dele quando não estão em risco de o cometer mas na realidade muitas pessoas que se suicidam ameaçam com frequência que tencionam fazê-lo. Os familiares e os amigos devem levar a sério essas ameaças.

Os suicidas sentem-se sempre e invariavelmente desesperadamente incompreendidos e sós, mesmo rodeados de gente, defasados e desencontrados de si mesmos, inadaptados e profundamente frustrados e desiludidos.

Se encontrarem alguém com quem tenham a oportunidade de falar num gritante desabafo dum sufoco insustentável, que os escute, os compreenda e lhes mostre a Vida com carinho é por vezes suficiente para evitar o ato.

A seguir a uma ameaça de suicídio, a família e os amigos devem sutilmente eliminar todos os meios óbvios de o cometer e proceder a uma vigilância disfarçada sobre a pessoa. Não se podem considerar essas ameaças chamamentos de atenção. Por vezes pode seguir-se uma tentativa de suicídio.

É considerada tentativa de suicídio qualquer ato não fatal de automutilação, autolesionamento ou de auto-envenenamento (parasuicídio). A intenção da morte não deve ser incluída na definição, pois não é muitas vezes manifestada; a gravidade da tentativa de suicídio deve antes ser relacionada com a "potencialidade autodestrutiva" (letalidade) do método utilizado e com a probabilidade de uma intervenção salvadora de terceiros (intencionalidade).





Assim, muitas tentativas de suicídio (também chamadas parasuicídios) desenrolam-se num contexto onde é previsível ou possível o socorro, pelo que devem ser consideradas no mínimo, como gritos desesperados de socorro emitidos por pessoas em extrema aflição.

As pessoas que fazem tentativas de suicídio constituem um grupo sociologicamente diferente do daquelas que de fato se suicidam.

A tentativa de suicídio é três vezes mais comum nas mulheres que nos homens e atinge a sua incidência máxima entre os 15 e 30 anos em pessoas solteiras ou divorciadas.

O maior risco verifica-se em pessoas que vivem em Zonas urbanas pobres, em indivíduos com distúrbios de personalidade e entre alcoólicos e toxicodependentes.

O que origina mais normal e vulgarmente o ato são separações do parceiro sexual, a morte dum ente querido, preocupações financeiras, e outras situações que conduzam a depressões.

Todas as tentativas de suicídio devem ser encaradas com seriedade, pois das pessoas que tentam suicidar-se 20 a 30% fazem nova tentativa dentro de meses e 10% acabam por matar-se.

A base do tratamento consiste em providenciar apoio imediato, ajudar a pessoa a resolver as dificuldades que precipitaram a tentativa e só depois tratar a depressão ou outro distúrbio mental subjacente.