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Itacaré , Bahia, Brazil
Nesse blog, vou apresentar uma serie de estudos, textos, pesquisas e vivências que fazem parte do meu transito molecular, comumente chamado de vida. Iniciado no Budismo Vajrayana (Tibetano) aos 20 anos. Praticante de Iai do (4º Dan) .Graduado em Psicologia (UFMG - 11980) com formação em Psicologia Analítica. Socorrista (SAR) com especialização em resgate com helicóptero, em caverna e altura. Negociador junto a organizações militares em MG de suicídio com e sem armas letais, sequestro e cárcere privado. Clínica psicológica ininterrupta desde graduação. Amante da vida natural, moro em meio à Mata Atlântica na Bahia.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2021


O Suicídio ou a Entrada na Morte



De modo geral estamos habituados a pensar no suicídio como uma saída covarde da vida. As formas pela qual isto se dá são as mais variadas. São fartamente documentadas pela estatística criminal na forma de bilhetes, cartas, comentários, constatações, etc.

O suicídio é, ao mesmo tempo que uma saída da vida, uma entrada de alguma forma consciente para a morte.

Quero tratar aqui da morte que escolhemos, diferenciando-a da morte que vem ao nosso encontro (a morte natural, cotidiana).

Como analista, trabalhando dentro de um recinto hermeticamente fechado para o coletivo, que é o consultório, vejo desfilar à minha frente, situações e vivências, mais do que qualquer outro profissional de saúde veria. Por exemplo, um médico tem a sua frente um paciente que traz em seu corpo uma marca, um sinal, um sintoma que pode, em alguma medida ser sanado (ou não). Nesta medida, ele trata de uma manifestação exterior e, também pôr esta razão, não toma a doença do paciente como a sua doença; este é o seu “modus operandi”... O analista o faz, na medida que o processo transferência\contra-transferência é o cerne da análise.

Na análise profunda da alma, que é o que ocorre em nossa prática, esbarramos, necessariamente, com a morte e com a sua possibilidade auto-engendrada que é o suicídio. Albert Camus in The Myth of Sisyphus diz: “Não há senão um único problema filosófico sério: é a questão do suicídio. Julgar se a vida vale ou não a pena de ser vivída equivale a responder a questão fundamental da filosofia. Todo o resto... daí decorre. Esses são jogos: deve-se primeiro dar uma resposta”.

Assim é que, se desejamos aprofundar de fato a reflexão sobre o viver e defrontarmo-nos seriamente com a realidade, nos chocaremos frontalmente com a mortalidade. É somente da vida que podemos observar a morte, um morto não pode absolutamente fazê-lo. Somente quem está vivo é que pode morrer, assim sendo, consciente ou inconscientemente estamos nos debatendo com a questão última.

Nós, mortais, temos uma atitude, no mínimo insensata de encararmos a morte: nós a percebemos como alguma coisa que acontecerá na velhice, alguma coisa que pertence a um tempo distante (que exorcizamos continuadamente), alguma coisa que poderá acontecer na continuidade de uma doença. Nós a percebemos como a entrada para uma outra vida, nós não a colocamos nesta existência senão no último segundo deste existir aqui. Perdemos de vista que, na realidade, nós entramos na morte quando nascemos; a morte interessa à vida. Quando nascemos já temos idade suficiente para morrermos.

Qualquer pessoa que ultrapasse o umbral de um consultório está mobilizado pela morte em qualquer um dos seus aspectos: doença física, depressão, perda (morte) de um ente querido, uma separação, a perda de um negocio, a instalação em si mesmo de uma doença degenerativa, um acidente, e quanto ao suicídio, devemos atentar para o fato de que não existe apenas uma forma de suicídio, ou colocado de outra forma, muitos são os substitutos para o suicídio e ainda assim guardam em grande forma o seu “status”. O que seriam estes substitutos?, os acidentes, as doenças auto-imunes, as drogas, o alcoolismo, o trabalhar compulsivo. O suicídio coroa a questão se impondo diante de nós de forma definitiva e implacável. Não há o que ser dito ou interpretado no suicídio enquanto ato acabado. Ali à nossa frente não está apenas um morto, está alguém que conjurou a própria morte (cunjurare: jurar junto), está ali alguém que determinou como seria o restante de sua existência; está ali alguém que resolveu sair da vida ou resolveu entrar na morte? Não quero que sejam estas palavras tomadas como um jogo, mas que sejam vistas como a perspectiva que descortina alguém que se colocou no umbral de dois mundos, levado até ali seja pela razão que for.

A nossa tentativa de encarar o suicídio de uma maneira diferente daquela que na maioria das vezes é encarado, decorre desta participação sinistra que se dá no “temenós” formado no consultório. “Temenós” é o espaço sacralizado por um rito e que determina o ambiente onde fatos extraordinários, supranormais acontecerão. Que fatos supranormais seriam esses? São revelações, são descrições, são relatos de uma região tão próxima e tão distante qual seja a alma. O que nos vemos aqui é o desnudamento da alma do sujeito no encontro analítico. Desnudamento por um lado e contemplação pelo outro; diferente do encontro médico e/ou psiquiátrico (que é o médico que prescreve drogas para os sofrimentos da alma, ele só vê os sintomas, mas desconhece o funcionamento dos meandros da alma), que é um encontro onde se estabelece um laço de confiança e transferência apenas como acessório daquele momento em particular. Na análise profunda, entretanto, a transferência é mais que um acessório é a base do encontro, e aqui o encontro é aberto, é incondicional, sob pena de não haver a menor possibilidade da continuação da análise. Aqui ocorre o surgimento do laboratório alquímico onde analista e analisando se fundem num processo de descobertas de ambos os lados. O foco é que fica dirigido de forma natural e serena sobre a figura do analisando, mas as transformações ocorrem nos dois sujeitos de forma profunda e gradual.

Esta aliança singular a qual chamo de pacto sinistro (sinistro porque é um pacto feito às cegas, incondicional, sem nenhuma forma de restrição, sem qualquer crítica, sem qualquer julgamento de valor ou ético), e que é a base de trabalho necessária para que a vida/morte surja em todo seu esplendor. Enquanto nos encaminhamos para as profundezas da alma daquele ser que está a nossa frente, vamos nos encaminhando de forma inexorável de encontro à morte dele mesmo (e também da nossa) enquanto única certeza. Aqui, talvez, a expressão sinistro possa ser mais bem entendida, pois, no nível superficial podemos ver a morte manifesta, mas a nível profundo podemos ver a morte se insinuando, se instalando, se organizando...se cumprindo. De fato, a vida é apenas aquilo que vemos de fora, de dentro só encontramos morte acontecendo, e coisa curiosa, quando vemos a morte aqui de dentro de maneira clara, inequívoca, ela não se nos mostra mais de forma tão aterradora, passa ser apenas a vida se consumindo a si mesma, mais ou menos rapidamente, de conformidade com as deliberações tomadas por, e às vezes impostas àquele ser.

Pronto. Esbarramos finalmente na alma, que é este lugar de Luz e de Sombra. Aqui está o fundo do labirinto. Aqui reside o monstro que foi criado e  aprisionado pelas paixões, pelo orgulho, pelo amor, pelo ódio, pelos afetos, pela educação daqueles que temem a morte e que, ainda mais dramático, tem contato com a imensidão do inconsciente coletivo, lugar depositório de toda a história da humanidade desde seus primórdios. Não há como ignorarmos a presença deste inconsciente. Ele se faz presente pelos ruídos interiores, se insinua nos sonhos, aparece projetado na pessoa à nossa frente, parece estar escondido naquele canto escuro da noite. Esta é a Sombra. Esta é a dimensão mais temida e apaixonante de todo o ser. É a parte de nós mesmos que amamos e tememos com tanta ferocidade. O medo, o pânico, os receios, o pavor da morte, até mesmo o tão decantado amor tem uma predileção toda especial pôr esta região.

O suicídio é a possibilidade que está instalada na alma desde o nascimento. É a certeza que todos os seres têm, não importando etnia, crença ou religião, de poderem dispor da própria existência. No entanto não sabemos como administrar esta certeza posto que a elucidação da morte passa a pertencer à teologia e à sociedade que, aquela, baseada no exercício da fé, estabelece dogmaticamente os rituais de morte como: os últimos sacramentos, os ritos funerários e elucubrações escatológicas sobre o Céu e o Inferno, e a cultura, controlando e criminalizando tal ato por significar, em alguma medida, a falência, a morte de uma parcela de si mesma.

É necessário este nível de reflexão, ainda que confronte, num primeiro momento, com as dinâmicas sociais, religiosas, médicas e morais.  

Citando  James Hillman:  “A Teologia sempre soube que a morte é a primeira preocupação da alma. Num certo sentido, dedica-se a morte [......] A morte, entretanto, dificilmente se abre à investigação teológica. Os cânones foram estabelecidos por artigos de fé. A autoridade do sacerdócio deriva seu poder das leis que representam uma posição elaborada em relação à morte. A posição pode variar de religião para religião, mas está sempre presente. O teólogo sabe em que terreno está pisando a respeito da morte. As escrituras, a tradição e o ministério dizem-lhe porque existe a morte e o que se espera dele em relação a ela. O esteio da psicologia do teólogo, bem como sua autoridade, é sua doutrina sobre a vida-após-a-morte. As provas teológicas para a existência da alma estão de tal maneira ligadas aos cânones da morte - cânones sobre a imortalidade, o pecado, a ressurreição, o juízo final- que uma indagação direta põe em dúvida a própria base da psicologia teológica. A posição teológica , devemos lembrar, começa no pólo oposto ao pólo psicológico. Ela parte de dogmas, não de dados; parte não da experiência viva, mas cristalizada. A teologia precisa da alma para conferir uma base a seu elaborado sistema de crença sobre a morte, que é parte de seu poder. Não existisse a alma, a teologia provavelmente a inventaria, a fim de justificar as antigas prerrogativas sacerdotais sobre morte.”

Assim é que, a análise psicológica profunda, ou psicologia do inconsciente é um pensar aberto, não redutivo (tal como a psicanálise freudiana ou crenças religiosas) não fechado por nenhum dogma que seja, para que a compreensão possa se dar no ambiente de ocorrência dos mistérios profundos da alma, no fundo daquele labirinto, naquele lugar sombrio onde apenas alguns tipos de seres se aventuram: os loucos (que escorregaram para aí) e daí não saem pôr se tratar, de fato, de um lugar magnífico e passam a literalizar, a atribuir um significado real ao que está sendo visto e vivido; os heróis, pois se metem em aventuras para resgatarem princesas e quimeras, e nem sempre são bem sucedidos nesta empreitada, morrendo na maioria das vezes, no confronto com os monstros que lá residem,  mas se saem, saem renascidos, modificados e maiores pela jornada heróica necessária à individuação, os xamãs (atualmente os psicólogos do inconsciente), que são levados até lá para resgatarem alguma alma que se perdeu e pede socorro ou porque ele mesmo está em plena jornada de descoberta interior e os poetas e artistas que sentem os vapores oriundos destas profundezas  e são capazes de transformas aquelas visões em expressões de beleza inaudita...ou às vezes maldita.

 Muito bem, mas onde é que está todo mundo, todo o resto das pessoas? Elas estão aí em cima, metamorfoseadas em qualquer um dos tipos descritos, ainda que não tenham uma consciência clara disso.

Loucos são todos aqueles que teimam em não dar a medida necessária de uma determinada realidade. Assim é que o apaixonado não tem a medida para perceber a extensão da díade amorosa que o levará ao sacrifício de si mesmo. Assim é com o homicida que julga ver no outro algo que precisa ser destruído para que de alguma forma ele possa continuar vivendo. Assim é com os sacerdotes que entendem que o pecado se espalhou pelo mundo e cortou as vias de acesso com Deus e que só eles conhecem os atalhos do Paraíso.

Heróis são os que se assemelham aos “daimons”, seres intermediários entre os deuses e os loucos mortais comuns. Julgam-se acima de normas e estatutos sociais, e se igualam a deuses e demônios em outras circunstâncias. Estão sempre intoxicados pêlos vapores que vem das profundezas do labirinto, e assim, ficam inflacionados pôr uma visão supra racional da realidade e precisam encetar jornadas que os conduzam ao encontro do si mesmo e que depois retornam para atuar como agentes modificadores de sua sociedade.

Os xamãs/psicólogos são aqueles que, necessariamente, já passaram pêlos dois estágios anteriores e guardam com cuidado, as marcas trazidas daquelas jornadas, sem se jactarem de seus achados e experiências, guardando, isto sim, um silêncio profundo, onde na maioria das vezes, todos estão gritando seus feitos.

Assim é a jornada pelo reino da morte, que é a vida no seu aspecto mais profundo, íntimo e último. Um autor,  uma vez descreveu a morte como o último capítulo da vida, eu digo que a morte é o ÚNICO capítulo da vida. A vida é o que acontece enquanto se morre. 

De que perspectiva podemos então olhar para o suicida?

Qual é o paradigma que nos ajuda na elucidação de tal feito?

A análise médica e criminal esclarece o como. A análise estatística distribui este como geopoliticamente. Tudo sugere que é na análise da alma que poderemos encontrar respostas, senão indagações colocadas de uma vertente nova, a fim de termos uma visão mais coerente do fenômeno que ora tratamos aqui e que não é absolutamente, nem sintoma, nem síndrome, mas apenas um ato possível dentro do ser, e que, no entanto, nos deixa perplexos porque impotentes diante do morrer do outro, como também porque nos relembra de que aquele principio de morte está dentro de nós a todo o momento.

Haveremos que lembrar que sempre somos desconhecidos de nós mesmos, e carregamos dentro de nós uma multidão de “eus” já que o caráter (Xarater = sêlo, grego)está perdido.

Pôr um momento deveríamos deixar de lado qualquer conceituação jurídica, teológica, social, estatística, moral, médica do suicídio e tentarmos vê-lo como parte integrante do existir. De fato, o suicídio é o único problema existencial sério, pois, coloca a morte não na mão do destino ou de deuses, mas na mão do próprio indivíduo. Passa a ser parte integrante da bagagem (do Phortion = mochila, bagagem pessoal, grego) do sujeito vivo e, com certeza, a morte se instala enquanto fenômeno necessário, complementar, no momento mesmo do nascimento.

Deveríamos buscar auxílio no estudo de crenças e religiões comparadas, no estudo dos mitos e dos povos arcaicos ou que vivam hoje, fazendo uso cotidiano e como absolutamente indispensável, de rituais pertencentes à sua tribo, a seus antepassados.

Deveríamos submeter-nos a uma análise profunda, rigorosa, sistemática de nós mesmos e buscarmos ouvir e compreender o grito/sussurro da morte, dos rituais, dos mitos que nos permeiam.

Em sociedades onde existem e são praticados ritos de iniciação das várias etapas da vida e da experiência da alma, não encontramos o suicídio como o encontramos nas sociedades civilizadas. Não encontramos nem mesmo, algumas formas de crimes como conhecemos pôr aqui. Nem mesmo as chamadas doenças mentais

Proponho uma reflexão profunda no sentido de que a ausência de rituais coletivos, rituais tribais, rituais domésticos e individuais ou seja, a ausência de um mito moderno contribuem para o surgimento dos crimes em seus vários aspectos e modalidades. Sugiro mesmo, que o suicídio atual é um salto desesperado da alma ao encontro das regiões onde residem os mistérios que são a ela (alma), tão queridos, indispensáveis e inseparáveis, e não, necessariamente, uma saída de situações conflitantes da vida.

Proponho ainda, uma real investigação dos mitos e rituais como uma necessidade absoluta da alma se organizar até o encontro primordial com seus seres ancestrais, illo tempore.

Na medida que a alma não se situa, não encontra uma ordem, (que é dada através dos rituais, uma reatualização dos mitos), ela promove uma desordem interior e ao redor, promovendo a possibilidade de surgimento do pseudo hierofante, do pseudo arauto dos mistérios, que é substituído em nossa civilização pelo juiz, pela autoridade, principalmente pelos políticos, pelo médico clínico que, não conhecendo os mistérios e nem são, pôr sua vez, iniciados, se limitam tão somente a dar uma resposta, uma ordem (aparente) ao caos, mas não promovem uma significação do fenômeno nem mesmo arranham o seu real entendimento, como esta aí demonstrado pela história caótica dos nossos tempos. Os traficantes, os atuais iniciadores nos mistérios das drogas hoje são os substitutos mais eficientes dos hierofantes (aqueles que anunciam os mistérios, em grego) e os políticos canhestros que se autointitulam os promotores da Ordem e da Moral Social (triste fado).  Estaria aí uma vertente de estudo do porque de tal atrativo fornecido pelas drogas, pelas políticas desvairadas, pelas redes sociais? 

     Eu defino droga, para estes efeitos, tudo aquilo usado para além dos limites necessários e tolerados, desta forma, qualquer compulsão tem uma característica de drogadicção.

Atrevamo-nos, pois, a conhecer profundamente, aquilo que temos conhecido de forma superficial e leviana: A Morte Cotidiana e seu séquito.

  

Marcus Vinicius Moreira de Assumpção

Outono de 1995

quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

Por que Arte de Morrer com Elegância.


Simples.


Tudo está morrendo.


A vida é o que acontece enquanto se morre.


No momento mesmo que nascemos, temos idade suficiente para morrermos.


Diferentemente do pensamento oriental, para ser mais preciso, do Budismo Tibetano, o pensamento ocidental considera, de uma forma piegas, que apenas velhos e doentes morrem, e tratam a morte como uma grande inimiga.


De fato, a morte permeia todos os eventos vivos. O gerúndio que deveríamos usar seria: estamos morrendo e não, estamos vivendo. Toda a questão se resume em se vamos morrer com elegância ou não.


Sociedades antigas e outras tantas que mantêm vivos rituais iniciáticos, lidam com a morte como a companheira do cotidiano. A morte é vista como inerente e natural à todo organismo que nasceu.

 E esse contraste se acentua quando perguntamos para o homem comum, moderno, o que se opõe à morte ele responde de pronto: a vida..e aqui está o erro; o que se opõe à morte é o nascimento; insisto: A vida é o que acontece enquanto se morre!


Os rituais de iniciação têm por, princípio orientador, promover a morte do iniciado de um determinado estágio de vida para outro posterior. O nome muda, as orientações para o cotidiano mudam, o status pessoal muda, as funções e tarefas mudam; o iniciado já não pertence àquela vida anterior, está morto para ela. E isso interessa à alma e a acalma, dando ordem e sentido.


Esta ansiedade existencial pertence ao homem que não foi iniciado nos grande mistérios da existência, pertence àquele que embota os sentidos com o mundo exterior e olvida as mensagens cotidianas da impermanência. Cria teorias e princípios mirabolantes para burlar esse grande acontecimento. Outras espécies animais têm medo e temor da morte , e assim deveria ser como princípio orientador para nós humanos, apenas permitirmos que a nossa morte nos oriente e nos diga como evitarmos a deselegância de morremos num desastre de automóvel ou atropelados pelo evitável.


Por quatro décadas trabalhando num consultório, escutando os medos e as angústias do homem, e por maior período de tempo trabalhando como socorrista (SAR) e negociando sequestro e suicídio, pude ficar frente a frente com “mementos mori” e podia ver a tragédia se desenrolar em câmera lenta, terrificante. Mas aprendia tremendamente com esse aliado poderoso, naqueles momentos limítrofes, fascinante.


Muitos são os autores que escreveram sobre a morte e o morrer, mas poucos são os que abordam o morrer de uma perspectiva pacífica, calma, destemida. Tudo indica fazer parte da história do homem esse medo atávico, tremendo.


Mas vamos lá continuar tentando ofertar um novo paradigma.


Chamo em meu auxílio alguns autores com os quais ombreio:


“O que é natural à Espécie nem sempre o é para o indivíduo” 

(Jon Donne: Biathanathos: Uma declaração deste Paradoxo ou tese, a saber, que o Auto-Homicídio não é tanto um Pecado Natural, pois que nunca pode ser de outro modo. 1644)


“Não há senão um único problema filosófico sério: é a questão do suicídio. Julgar se a vida vale ou não a pena de ser vivida equivale responder à questão fundamental da filosofia. Todo o resto…dai decorre. Esses são jogos; deve-se primeiro dar uma resposta.” 

(Albert Camus: The Myth of Sisyphus, 1942)


“A despeito das aparências em contrário, o estabelecimento da ordem e da dissolução do que foi estabelecido na realidade estão além do controle humano. O segredo é que apenas o que pode destruir-se a si mesmo está realmente vivo.”

(C.G.Jung: Psychology and Alchemy, 1944)


“Não deveríamos confessar que em nossa atitude civilizada face à morte estamos mais uma vez vivendo psicologicamente além de nossas posses e precisamos corrigir-nos, dando à verdade o que lhe é devido?

Não seria melhor dar à morte, tanto na realidade como em nossos pensamentos, o lugar que a ela pertence de direito e conceder um pouco mais de preeminência àquela atitude inconsciente em relação à morte que até agora tão cuidadosamente suprimimos?…

Si vis vitam, para mortem. Se queremos enfrentar a vida, devemos estar preparados para a morte.”

(Sigmund Freud: Thoughts on War and Dead, 1915)


“Oh! Constrói teu barco da morte, não te demores e constrói com amor e deixa-o entre as mãos de tua alma.”

(D.H.Lawrwnce: Ship of Death, MS. B.)



“Pelo fato de a análise ser uma consideração sobre o viver, ocupa-se com questões de morte. Proporciona a intensa situação humana onde se podem focalizar questões essenciais, tornando-se, assim, um paradigma de vida. Tudo é desnudado dentro de uma pequena sala, entre duas pessoas, em segredo e no vácuo. Este é o lugar dos tópicos sinistros, porque a análise (profunda) é uma atividade mais da mão esquerda que da direita. Ela diz respeito a um tabu e está colocada dentro de um tabu que lhe é próprio.

Objetivo da adaptação social pertence à mão direita, ao aconselhamento consciente; a análise, porém, inclui igualmente a esquerda. Ela revela o homem inferior, no seu aspecto canhestro e sinistro, para quem o suicídio é uma questão real. A análise oferece à mão esquerda uma oportunidade de viver conscientemente sua própria vida, sem ter a mão direita por juiz, encarando o que ela faz. A mão direita não pode nunca conhecer a mão esquerda, apenas interpretá-la e traduzi-la.”

(James Hillman, Suicidio e Alma, 1993)








A REPRESENTAÇÃO DA REALIDADE

 
A percepção, como vimos, tem sido considerada como a base da cognição e deve ser verídica e pessoal. É um dos requisitos mais elementares para percebermos o mundo e conseguirmos um ajustamento realista a ele.

Este ajustamento realista exige mais do que o reflexo fisiológico dos equipamentos sensoriais; exige satisfazer nossas necessidades, encontrar alguma segurança, explorar as oportunidades para o crescimento e, conseqüentemente, encontrar um sentido satisfatório para a nossa existência.

O conjunto de elementos capazes de nos fazer perceber o mundo de acordo com nossa aptidão pessoal capacita-nos à uma visão mais diferenciada da realidade, oferece uma percepção que ultrapassa àquela simplesmente oferecida pelos órgãos dos sentidos.  

Através dos órgãos dos sentidos os objetos se nos apresentam corporalmente, objetivamente e, nas representações internas elaboradas pelo eu, apresentam-se como imagens. Portanto, a imagem deve ser sempre interior e ter sempre uma concepção individual, porém, apesar de individual, a imagem jamais deve ser emancipada da realidade. Soltando-se da realidade, de forma a produzir um mundo objectual novo e particular, estaremos incorrendo no domínio dos delírios e das alucinações.
Saber porque algumas pessoas se desesperam, se angustiam ou até se suicidam diante de fatos ou vivências que outras pessoas suportariam de forma diferente diz respeito, em parte, às diferenças entre como as coisas são de fato, e o que elas representam para cada um de nós. Portanto, saber um pouco sobre as diferenças entre a realidade externa a nós e a representação interna dessa mesma realidade poderá facilitar a compreensão das diferenças entre o mundo objetivo e o mundo subjetivo.

A nossa cultura registra em Platão (427-374 AC) a primeira reflexão sobre uma nova espécie de realidade experimentada pelo ser humano e que não corresponde exatamente à realidade objetivamente verdadeira: trata-se da realidade psicológica. Santo Agostinho (354-430 d.C.), considerado um grande estimulador dos recentes movimentos existencialista e até da psicanálise, inspirou sua obra na realidade das experiências interiores do ser humano, propondo a idéia de que os sentimentos são dominantes e que o intelecto é seu servo. Em seu livro Confissões, Santo Agostinho foi o primeiro a centralizar-se na introspecção psicológica, sugerindo também, uma completa revisão do pensamento anterior, segundo o qual o raciocínio dedutivo era o único instrumento de constatação da verdade e da realidade (racionalismo). Ele negava, categoricamente, a capacidade do ser humano para encontrar a verdade confiando apenas em suas próprias faculdades.

John Locke (1632-1704), filósofo do século XVII, acreditava também na existência de duas realidades: uma delas conferida pela percepção dos objetos e denominada experiência exterior e uma outra, determinada pela percepção dos sentimentos e desejos, a que chamou de experiência interior. A doutrina de Locke foi muito bem desenvolvida por Berkeley (1685-1753) e por David Hume (1711-1776), os quais concluíram que nenhum conhecimento absoluto é possível, e aquilo que sabemos da realidade é baseado na experiência subjetiva (experiência interior), a qual não reflete necessariamente o quadro verdadeiro do mundo. Wilian James (1842-1910), no século passado, enfatizou a natureza altamente pessoal dos processos de pensamento e o caráter sempre mutável das percepções do mundo, alteradas que são pelo estado subjetivo da pessoa que percebe.

Portanto, já que a concepção da realidade é baseada na experiência subjetiva e, sendo esta capaz de conferir uma natureza altamente pessoal à percepção do mundo e aos pensamentos, então a realidade percebida decorrerá sempre do estado subjetivo do indivíduo. Cada consciência, em particular, integra e totaliza de maneira muito peculiar o seu relacionamento com o mundo. Desta forma, os fatos oferecidos pelo mundo objectual à nossa volta resultarão numa representação única e individual para cada um de nós, e será esta representação que constituirá a realidade particular de cada indivíduo.

As representações são construídas pelas imagens dos objetos e dos fenômenos percebidos nas experiências anteriores e evocadas de modo voluntário ou involuntário. São entendidas, as representações, como um ato de conhecimento conseqüente à reativação de uma lembrança ou de uma imagem mnêmica sem necessidade da presença real do objeto correspondente. Para que este conceito (que é também o conceito de cognição) não fique reduzido ao fenômeno da memória, como a grosso modo poderia parecer, podemos comentá-lo mais amiudemente.

O que existe, em psicodinâmica, ou é o indivíduo ou é o não-indivíduo, em outras palavras, tudo o que não é o sujeito é o objeto. Tudo o que estiver fora de mim será, para mim, o objeto (mundo objectual), em contraposição à “eu mesmo”, que sou o sujeito. Entendemos por imagens dos objetos e dos fenômenos percebidos nas experiências anteriores, toda impressão que o contacto com a realidade pode produzir no indivíduo.


REPRESENTAÇÃO, APERCEPÇÃO E PROCEPÇÃO


Portanto, a representação da realidade, daqui em diante chamada apenas de REPRESENTAÇÃO, transcende significativamente a simples percepção do mundo; é aquilo que o mundo passa a representar para a pessoa depois de nela introjetado ou por ela apreendido. Desta forma, enquanto o caráter da SENSOPERCEPÇÃO é melhor entendido predominantemente a nível do fisiologismo neuro-sensorial, através dos cinco sentidos, a REPRESENTAÇÃO reporta-se predominantemente à subjetividade da realidade, e é revestida de uma tonalidade afetiva particular do indivíduo, portanto, a nível afetivo-psicológico. Uma simples rosa pode ser percebida fisiologicamente através da visão, tato ou olfato, porém, será ricamente representada através do subjetivismo da pessoa. Pode até ser dispensável nesta representação, a presença física do objeto rosa. Da mesma forma, a palavra mãe, por exemplo, que pode ser percebida pela visão, se for escrita ou pela audição, se for falada, terá sua representação interna tocada pela afetividade e jamais será igual entre as pessoas.

O texto de Jung é bastante explicativo: "parece que o consciente flui em torrentes para dentro de nós, vindo de fora sob a forma de percepções sensoriais. Nós vemos, ouvimos, apalpamos e cheiramos o mundo, e assim temos consciência do mundo. Estas percepções sensoriais nos dizem que algo existe fora de nós, mas elas não dizem o que isso seja em si. Esta é tarefa não do processo perceptivo, mas do processo de APERCEPÇÃO. Este último tem uma estrutura altamente complexa. Não que as percepções sensoriais sejam algo simples, mas a sua natureza é menos psíquica do que fisiológica. A complexidade da apercepção, pelo contrário, é psíquica".

Portanto, Jung identifica a REPRESENTAÇÃO da qual falamos, com a APERCEPÇÃO, algo responsável pela significação da coisa ou do que é a coisa em si. Neste caso, se a essência das coisas é determinada mais pelo pensamento e emoção que pela percepção neurológica, esta (a essência das coisas) será sempre pessoal e individual, então o significado essencial das coisas será igualmente pessoal e individual.

Allport é outro autor preocupado com a questão da representação do mundo. Para ele, o que Jung chama de APERCEPÇÃO é tratado com o nome de PROCEPÇÃO: mais um sinônimo para REPRESENTAÇÃO interna. Diz-nos, Allport, que "existir como pessoa significa ultrapassar o verídico e o cultural, bem como desenvolver a própria visão do mundo. Em cada momento cada um de nós realiza, à sua maneira, a sua transação entre o Ego o mundo. Seria impossível enumerar todos os amplos tipos de orientação proceptiva que servem para distinguir os homens entre si. Uns têm uma mentalidade dominante para o passado, outros para o presente e alguns para o futuro. Para alguns o mundo é um lugar hostil, os homens são maus e perigosos; para outros é um palco para folias e brincadeiras".

Mesmos fatos, mesmas situações e mesmos acontecimentos podem ser experimentados por um número infindável de pessoas e representados por infindáveis maneiras. A guerra, por exemplo, onde participam milhares de pessoas, pode representar uma coisa diferente para cada um; embora seja traumática para a expressiva maioria das pessoas que dela participa, será mais traumática para os que neurotizam, demasiadamente traumática para os que psicotizam, apenas desagradável para alguns, e até boa para os vencedores e para os fanáticos, e assim por diante... Enfim, cada personalidade apercebeu-se da guerra de uma maneira completamente diferente.

Perceber a realidade exatamente como ela é tem sido uma tarefa totalmente impossível para o ser humano. 

Nós nos aproximamos variavelmente da realidade, de acordo com nossas paixões, nossos interesses, nossas crenças, nosso acervo cultural, etc. Algumas atitudes mentais favorecem um contacto mais íntimo com a realidade, outras afastam deste contacto. Será muito difícil para uma pessoa perdidamente apaixonada, elaborar um correto julgamento acerca da personalidade de quem ama. Normalmente, nestes casos, a força da paixão turva a avaliação do objeto amado. Da mesma forma, a realidade que um botânico experimenta diante de uma orquídea certamente será diferente da realidade experimentada pelo poeta diante da mesma orquídea. A realidade do indígena é plena de determinados deuses ausentes na nossa, assim como nossos micróbios não participam da realidade deles e assim por diante.

Embora a representação do real seja particular em cada um de nós, como dissemos, esta compreensão do mundo objectual percebido e introjetado deve ser organizada segundo as regras comuns de um mesmo sistema cultural e, desta forma, tornar possível a convivência e a comunicação entre as pessoas de uma mesma cultura. Este sistema sócio-cultural que reconhece o direito da APERCEPÇÃO (ou PROCEPÇÃO, ou REPRESENTAÇÃO) particular de cada um de nós, também estabelece uma determinada faixa de compatibilização entre os indivíduos, onde as diversas maneiras de experimentar e sentir o mundo não comprometa a viabilidade da vida gregária. A esta faixa de congruência sugerimos chamar de CONCORDÂNCIA CULTURAL. Ou seja, um conjunto de valores, normas e modelos capazes de definir um determinado grupo cultuou seja, um conjunto de valores, normas e modelos capazes de definir um determinado grupo cultural e identificar os indivíduos de um mesmo sistema mediante um contacto mais ou menos consensual com certos aspectos da realidade.

Assim sendo, as infinitas variações pessoais na representação da realidade devem, apesar de infinitas, manter-se dentro da concordância cultural para serem consideradas normais. Seria como a infinita variação das impressões digitais. Mesmo diante da infindável variedade entre todas impressões digitais, há alguma concordância entre elas. No momento em que nos defrontamos com impressões digitais formadas por linhas retas e paralelas, ou regularmente quadradas e concêntricas, certamente estaremos diante de impressões digitais anormais.

Bandler afirma haver uma irredutível diferença entre o mundo e a nossa experiência sobre o mesmo. O pensamento, em seu desenvolvimento espontâneo, tem uma necessidade imperiosa de emancipar-se da realidade dos fatos apresentados pelos nossos sentidos. Seria este, o mais importante e brilhante mecanismo responsável por nossa capacidade de abstração e de criação. Sem ele, a espontaneidade e a liberdade estariam irremediavelmente comprometidas. Existir como pessoa significa ultrapassar o verídico e o cultural, desenvolver uma concepção interior do mundo com características próprias, porém, mantendo-se sempre razoavelmente ligado a uma realidade recomendada pela concordância cultural. Como diz o ditado, "A aventura pode ser louca, o aventureiro, porém, necessariamente dever ser lúcido".

A capacidade da pessoa ser ela mesma está em seu esforço (e em seu sucesso) em compatibilizar o seu mundo interior com a realidade externa, controlar seu mundo de forma a viver nele dominando-o de maneira realística. Existe uma parcela de nossa consciência que é emancipada da objetividade exclusiva dos fatos e do mundo dos sentidos, uma parte que nos torna únicos na maneira de ser e sentir o mundo. Existe também, uma outra parcela da consciência que nos identifica a todos como membros de um mesmo sistema sócio-cultural, compatível com uma concordância coletiva e consensual. Allport facilita esta situação ao sugerir a PROCEPÇÃO INDIVIDUAL e a PROCEPÇÃO CULTURAL. Esta última representa o depositário das respostas culturalmente atreladas em nossa personalidade, respostas culturais a determinados fatos vividos. A poligamia, por exemplo, é diferentemente representada pela cultura cristã ocidental e pela cultura islâmica oriental.

Resumindo, podemos dizer que todo ser humano tem uma maneira peculiar e muito pessoal de representar a sua realidade, e faz isso com um arbítrio suficiente para libertá-lo do estreito mundo dos sentidos. Por causa disso ele é capaz de criar, abstrair, pensar além do real e sonhar. Entretanto, mesmo diante desta diversidade representativa, mesmo respeitando sua liberdade ao irreal, está o indivíduo atrelado à concordância cultural de seu meio e, esta, funcionando como uma faixa de tolerância onde deverão situar-se as infindáveis maneiras de representar a realidade.

 

CONSTRUINDO A REPRESENTAÇÃO DA REALIDADE


A representação da realidade, de fato, repousa na capacidade da pessoa atribuir valores à realidade, isso é o mesmo que construir uma concepção ontológica individual do real. Segundo o filósofo Nicolai Hartmann, existiriam quatro categorias de valores possíveis de atribuir-se à realidade no sentido de construir-se uma representação pessoal da existência. Seriam os valores materiais, vitais, anímicos e espirituais. Cada uma dessas categorias necessitaria da anterior para existir e cada uma delas procura se emancipar da anterior.

   Para estudarmos as Alterações da Representação, como propõe esse capítulo, teríamos que avaliar as eventuais alterações nessas quatro categorias de valorização do real. Sendo quatro as categorias e, portanto, quatro possibilidades de variação, sendo que dentro de cada uma dessas quatro categorias existem mais uma variedade de possíveis alterações, não é fácil (nem lícito) simplesmente listar uma série de condições psicopatológicas onde haveria as tais Alterações da Representação. Temos que pensar em cada uma delas separadamente e, num segundo momento, procurar elaborar uma idéia que integrasse todas as inúmeras variáveis na maneira de valorizarmos o real. Como se vê, trata-se de algo muito complexo.


Categoria Material de Valorizar a Realidade


Com a categoria material nos referimos ao corpo, ao fisiologismo da senso-percepção, ao componente neuro-psico-biológico tão necessário para o contacto primeiro com o mundo que nos rodeia. Construir a realidade a partir do orgânico humano implica na integridade dos órgãos dos sentidos, na integridade das vias nervosas sensitivas, na integridade do Sistema Nervoso Central (SNC) e, principalmente, na capacidade integradora desses estímulos no SNC. Estamos falando das habilidades sensoperceptivas e de suas variações, assunto mais amiudemente estudado em Percepção e Realidade.

A representação da realidade, baseada na categoria material de conhecer o mundo, se dá através da percepção que a pessoa tem anteriormente à realidade consciente, através dos estímulos que apreendemos pela primeira vez, em seguida se dá através da transformação dessa percepção em realidade consciente e, por fim, através das percepções posteriores à realidade consciente, onde entram em ação as capacidades mnêmicas e integradoras do SNC.


Categoria Vital de Valorizar a Realidade


A pessoa aqui e agora pode ser entendida como uma resultância daquilo que ela trouxe ao mundo com aquilo que o mundo lhe deu (fenótipo = genótipo + ambiente). Para a categoria vital de valorizar a realidade interessa aquilo que a pessoa trouxe ao mundo, seu perfil vital. Kurt Schneider se utilizou desse sistema em sua Psicopatologia para apoiar a idéia das Depressões Vitais, dentro das Alterações Depressivas do Humor. Através desses sentimentos vitais a realidade se apresentaria além da situação real e da situação imaginária.

O estado depressivo baseado na situação real seria, por exemplo, uma Depressão Reativa, um Transtorno de Ajustamento com sintomas depressivos ou uma Reação Pós-Traumática ao Estresse. O estado depressivo que valoriza situações imaginárias estaria, por exemplo, na Neurose Depressiva ou, como se prefere atualmente, nos casos de Distimia mais leves ou no Episódio Depressivo Leve. Nos sentimentos vitais se encaixariam as depressões do Episódio Depressivo Grave ou Moderado e as Distimias mais graves (dupla depressão, etc.), onde sobressai o elemento constitucional.

Fossemos adequar essa categoria vital de valorizar a realidade na teoria junguiana, possivelmente encaixaríamos aqui os tipos psicológicos introvertidos. São pessoas que se relacionam centripetamente com o mundo objectual, apreendem os objetos, recebem a realidade mais apaticamente, complacentemente, se deixam impressionar pelo mundo objectual, ou seja, são o contrário dos extrovertidos, centrífugos, que se deslocam e influenciam o mundo objectual.


Categoria Anímica de Valorizar a Realidade


   Considerando o que foi dito antes sobre a pessoa aqui e agora ser entendida como uma resultância daquilo que ela trouxe ao mundo com aquilo que o mundo lhe deu (fenótipo = genótipo + ambiente), para a categoria anímica de valorizar a realidade interessaria a pessoa aqui e agora (fenótipo). O humor, responsável por esse tipo de valorização do real, seria o perfil afetivo atual, o qual guarda em seu bojo elementos constitucionais modelados pelo destino. Vale aqui o ditado segundo o qual "cachorro mordido de cobra tem medo de lingüiça".

   Avaliar a realidade sob o ponto de vista anímico implica em impregná-la com a tonalidade afetiva da personalidade, entendendo-se por personalidade uma constituição dinamicamente atualizada. Enquanto a categoria vital confere uma maneira perene e continuada de valorizar o mundo, a categoria anímica é dinâmica. Exemplo disso são as mudanças de valores durante a vida de uma pessoa.

   Pequenas variações anímicas se dão ao longo dos dias ou das horas, grandes e sólidas variações anímicas se dão ao longo dos anos. Fossemos adequar essa categoria anímica de valorizar a realidade na teoria junguiana, possivelmente estaríamos falando da reversão das fases natural para a fase cultural da pessoa onde, depois de aproximadamente 30 anos para mulheres e 40 para os homens, os valores sofreriam grande e substancial alteração; muito daquilo anteriormente importante deixa de sê-lo e vice-versa.

   Para a psicopatologia interessaria aqui as alterações baseadas nas situações reais e nas situações imaginárias comentadas mais acima.

Categoria Espiritual de Valorizar a Realidade

Avaliação espiritual da realidade é aquela que mais se afasta da objetividade dos fatos, assim como teria tendência em afastar-se das influências sensitivas, vitais e anímicas sobre a realidade. Entretanto, essa irreverência espiritual para com a realidade objetiva não se trata de uma realidade fantasiosa própria do mundo mágico da criança. Trata-se, sim, de um especial encontrar de significações para a vida, para a existência e até para o não existir mais.

   Alguns pensadores atribuem à categoria espiritual de valorizar a realidade os elementos relacionados à Angústia Existencial. Esta será patológica na medida em que se traduz em ansiedade antecipatória à sensação de abismo, solidão, desconhecida... Os sentimentos espirituais são aqueles que tendem para a valorização intelectual, estética, moral e religiosa.

   A categoria espiritual de valorizar a realidade diz respeito ao modo de ser e de vir-a-ser no mundo, bem como avalia a relação entre o ser e a vida. É aqui que se polariza a questão existencial mais importante do ser. Esta base de sustentação existencial deveria proporcionar conforto e bem estar, entretanto, na sua falta ou enfraquecimento, a ansiedade torna-se opressora, a angústia se exacerba e há retorno para categorias inferiores de valorização da realidade. Volta-se a questões afetivas, constitucionais ou exclusivamente materiais.

   O desenvolvimento da valorização espiritual pode, com freqüência, atenuar alterações mórbidas determinadas pelas outras categorias inferiores e, em casos psicopatológicos, pode determinar profundos sentimentos depressivos, tendo como pano de fundo a angústia patológica. Evidentemente trata-se, a valorização espiritual, da maneira mais eficiente para a adaptação do ser ao seu mundo e à sua vida e, ao contrário, nas psicopatias capazes de corromper esta categoria, como é o caso das psicoses, há as mais contundentes desadaptações existenciais.


A REPRESENTAÇÃO DA REALIDADE

 EMOÇÕES E SENTIMENTOS


   Inicialmente, há necessidade de especificar o que são Emoções e o que são Sentimentos. 

   Emoções são complexos psicofisiológicos que se caracterizam por súbitas rupturas no equilíbrio afetivo de curta duração, com repercussões consecutivas sobre a integridade da consciência e sobre a atividade funcional de diversos órgãos. 

   Sentimentos são estados afetivos mais duráveis, mais atenuados em sua intensidade vivencial que as emoções, geralmente revestidos de ricas e nobres tonalidades intelectuais e morais e não acompanhados, obrigatoriamente, de correspondentes somáticos dignos de nota. Admite-se que os sentimentos possam provir das emoções que lhes são cronologicamente anteriores e com as quais guardam correlações compreensíveis, quanto aos seus conteúdos respectivos.

   As emoções podem ser divididas em: Primárias, Secundárias, Mistas e Espirituais, conforme vão se afastando da sensação e se aproximando da espiritualidade.

Emoções Primárias

São assim chamadas em razão de serem inatas e por estarem diretamente ligadas à vida instintiva, à sobrevivência. Entre elas temos a Emoção de Choque – é a chamada reação catastrófica de Goldstein, caracterizada por espanto ou susto e desencadeadas por situações que representam ameaça evidente. Haverá concomitante contração generalizada dos músculos flexores, sendo possível adotar-se uma atitude regressiva fetal, vasoconstrição periférica, palidez da face e esfriamento das extremidades, com brevíssima parada dos movimentos respiratórios e dos batimentos cardíacos, logo seguida de aceleração compensadora. Pode haver atitude de pânico, ora com tendência à fuga desatinada, ora com imobilidade.

   Temos ainda, entre as primárias, a Emoção Colérica. Acontece como uma atitude dirigida à anulação de um objeto representado como incômodo, contrário à inclinação natural ao prazer. Há, neste caso, reação agressiva contra o estímulo externo responsável pelo desconforto ou contrariedade.

   Finalmente temos a Emoção Afetuosa. Trata-se de uma expressão de tranqüilidade e bem-estar, com tendência à lassidão, seguida de ampliação dos movimentos respiratórios e redução numérica dos batimentos cardíacos, desencadeada em reação ao apreço para com algum objeto ou situação que representa o prazer. É uma inclinação de fusão do eu com o mundo, ou no mundo. Essas são três primárias, integrantes do patrimônio afetivo básico ou original. As duas primeiras se acham a serviço da sobrevivência individual e, portanto, ligadas ao instinto de conservação, ao passo que a última relaciona-se com a inclinação ao prazer.

Emoções Secundárias

São estados afetivos de estrutura e conteúdos mais complexos que as primárias. Na realidade as Emoções Secundárias, embora levem o nome de "emoções", já se constituem em Sentimentos Sensoriais e que se apresentam, sob duas formas especiais.

Os Estados Afetivos Sensoriais, que correspondentes aos sentimentos sensoriais intimamente relacionados às sensações de prazer e dor, as quais têm por sede ou ponto de partida a nossa sensibilidade corporal. Os Estados Afetivos Sensoriais acabam proporcionando estados afetivos agradáveis e desagradáveis.

   Mas não há dúvida de que a abrangência dos estados afetivos agradáveis e desagradáveis é, na realidade, bem mais ampla que as sensações do prazer e da dor, na acepção sensorial. Os Estados Afetivos Sensoriais já implicam numa representação mais íntima de prazer ou desprazer. O amargo, por exemplo, é desagradável, sem ser necessariamente doloroso, o mesmo podendo suceder com as sensações de fome, calor, frio, sede, etc. Aspirar um fino perfume, ouvir um belo trecho melódico ou contemplar deslumbrante panorama são representações agradáveis, sem que constituam prazeres somáticos propriamente ditos, isto é, mais ou menos localizáveis em algumas partes do nosso corpo.

   Em segundo lugar, as Emoções Secundárias comportam os Estados Afetivos Vitais. Correspondem aos sentimentos vitais de Scheler, e compreendem aquilo que se experimenta como mal-estar, bem-estar, animação, desanimação, etc. Embora sejam representados por estímulos corporais bem pronunciados, são diferentes dos sensoriais por não estarem ligados a excitações localizadas em partes do corpo. Assim, pois, os Estados Afetivos Vitais são atitudes internas, positivas ou negativas, relacionadas a sensações vagas e difusas. São sentimentos orgânicos que emprestam coloridos específicos a determinados estados orgânicos.

   Os Estados Afetivos Vitais e Sensoriais podem se alterar nas atitudes neuróticas, onde as sensações orgânicas sofrem a influência dos afetos, que acabam por se converter numa linguagem especial do indivíduo para si mesmo e para os outros. É o que se verifica nos hipocondríacos, nos histéricos, etc. O mesmo ocorre em certos estados de êxtase místico e no faquirismo, por exemplo.

Emoções Mistas

   Emoções mistas são aquelas que envolvem mesclas de estados afetivos internos contrastantes e já se distanciam do sensível orgânico. Por estados afetivos contrastantes queremos dizer um "conflito emocional" consciente, com maior ou menor repercussão na conduta individual. Estas se compõem de estados afetivos de conteúdos vários e opostos, sem sistematização específica, caracterizando uma representação da realidade sob o ponto de vista da angústia existencial ou, algumas vezes, da angústia patológica.

Sentimentos Anímicos e Espirituais

   De acordo com a terminologia utilizada por Max Scheler, sentimentos anímicos são estados afetivos concebidos como qualidades do eu e dotados de intencionalidade do eu para com o objeto, ou seja, do eu em relação ao mundo dos valores. São exemplos de sentimentos anímicos a tristeza e a alegria, o amor e o ódio, a felicidade e o desespero, etc., referem-se a acontecimentos, objetos, coisas, pessoas, enquanto veículos de valor, positivo ou negativo.

   Os sentimentos espirituais tendem para os valores absolutos, tais como os valores intelectuais, estéticos, morais, religiosos, não mais concebidos exclusivamente como qualidades do eu, portanto, não mais inerentes à estruturação do sistema de valores relativos ou individuais.


Das Emoções aos Sentimentos


   Os sentimentos são atenuados em sua intensidade vivencial e em seus concomitantes fisiológicos (viscerais, vasomotores, secretórios, etc.) em comparação à exuberância das emoções. Intimamente entrelaçados com as sensações e as emoções, na dinâmica da vida psíquica total, os sentimentos se mostram muito mais duradouros, além de infinitamente mais numerosos e variados que os estados afetivos básicos dos quais se originam. Assim, da emoção primária de choque-pânico, provém emoções mistas (espanto, susto, terror. . .) e, destas, os sentimentos de insegurança, desconfiança, receio, medo, etc.; da emoção colérica, resultam vivências emocionais impulsivo-agressivas, bem como sentimentos de vingança, ódio, rancor, crueldade . . . ; da emoção afetuosa, originam-se reações emocionais de envaidecimento e auto-estima e sentimentos de simpatia, cordialidade, compaixão, amizade, amor, sob todas as suas formas (de pessoa a pessoa, à família, à pátria, a Deus, à Ciência, à arte, à liberdade, à humanidade, etc.); enfim, das emoções secundárias, de desprazer e mal-estar, de um lado, e de prazer e bem-estar, do outro, também, derivam, respectivamente, sentimentos de pesar, tristeza, desgosto, asco, aversão, desespero. . . ; bem como os sentimentos de júbilo, alegria, esperança, satisfação, felicidade, etc.

   A afirmação juvenil da sexualidade e o processo de integração social do adolescente proporcionam rejeição de muitos valores instituídos na infância, levando à adoção e introspecção de valores novos, que alteram profundamente o sistema referencial do indivíduo (sistema de valores) ampliando e enriquecendo, cada vez mais, a sua vida afetiva e, por fim, favorecendo o desenvolvimento dos chamados sentimentos espirituais. Estes últimos imprimem a feição final ao quadro afetivo geral da psique humana e constituem, a bem dizer, a principal característica de nossa espécie. Esses sentimentos (valores) espirituais permitem ao homem, com exclusividade, elevar-se continuamente no plano das idéias, dos juízos e dos atos e, com isso, caracterizar a totalidade de seu comportamento social. O característico dessa categoria de sistema de valores espirituais é que eles sempre se referem, não propriamente a pessoas, coisas, objetos, portadores de valores intrínsecos, mas à qualidade do que é ou não é valioso, do que é verdadeiro ou o falso, belo ou o feio, bom ou o mau, sagrado ou o profano. ..

   A REPRESENTAÇÃO da realidade, então, determinará a significação das coisas no âmbito de cada camada afetiva (Primárias, Secundárias, Mistas e Espirituais). Isso não quer dizer que essas categorias sejam herméticas ou estanques. Elas funcionam de maneira integrada e, por causa dessa integração, os conteúdos tímicos provenientes das camadas sensorial e vital, podem alcançar as camadas mais espirituais e vice-versa. Nada, em nosso mundo interior, se encontra em estado estático, de isolamento e de pureza elementar, mas sim, tudo se encontra de forma dinâmica e integrada.


REPRESENTAÇÃO DA REALIDADE

EMOÇÕES


O fisiologista Cannon pesquisava sobre as finalidades adaptativas das emoções mediante modificações somáticas. Ao contrário, seu colega Pierre Janet não atribuía às emoções as atitudes e condutas adaptativas, mas sim aos sentimentos. Ao seu ver, as emoções desorganizariam a conduta. O terror-pânico (emoção), por exemplo, compromete profundamente todas as defesas racionais possibilitadas pelo temor-receio-prudência dos sentimentos. Apesar disso, Janet reconhecia que algumas emoções possuem, de fato, finalidades adaptativas. Neste caso podemos supor que algumas emoções podem corromper a REPRESENTAÇÃO da realidade mais do que os sentimentos.

   Jean Paul Sartre sustenta a concepção de que as emoções representam uma resposta a determinadas situações e são, por isso, dotadas de sentido, pouco importando, a seu ver, se tal resposta é inadequada, ilógica, contraditória ou absurda, pois a emoção não tem por objetivo a real adaptação do ser vivo às circunstâncias, podendo inclusive ser nociva e até mesmo fatal à sua existência. Assim, o desmaio ante um perigo iminente será um paroxismo emocional que acaba privando o indivíduo de toda e qualquer possibilidade de defesa racional. Trata-se aí, no dizer de Sartre, de um recurso mágico mediante ao qual, na impossibilidade de eliminar o perigo, suprime a consciência de sua presença e de sua significação no indivíduo. É, portanto, uma emoção que, não apenas altera, mas, suprime substancialmente e contundentemente a REPRESENTAÇÃO da realidade.

   Ainda sobre as emoções de pânico-terror, poderíamos dizer que elas conduzem à sintomatologia da Síndrome do Pânico por valorizar indevidamente como ameaçadora uma realidade originariamente não hostil, da mesma forma como a emoção de medo fóbico faz representar como estressante estímulos essencialmente inofensivos. Esses exemplos mostram o prejuízo adaptativo de determinadas emoções.

   Tendo em vista a colocação sartreniana de que as emoções representariam uma resposta a determinadas situações, podemos supor, por exemplo, que as emoções de medo fóbico, ansiedade exagerada, pânico e terror seriam, pois, respostas à determinadas situações. E que situações seriam estas? Talvez pudéssemos pensar em situações internas à pessoa, situações afetivas capazes de propor emoções tal como se tratasse de situações externas. Conflitos e alterações afetivas podem se encaixar nessas condições internas.


Representação da Realidade

Inclinações e Paixões


   As inclinações são movimentos afetivos involuntários, duráveis, contínuos, persistentes, em direção a determinado objeto. Esses movimentos de apetência seletiva emergem de disposições extraconscientes, isto é, das tendências instintivo-afetivas latentes, as quais lhes dão força, sentido e unidade dinâmica, com ou sem repercussões sobre a motilidade e a conduta. São diferentes das ações impulsivas incoercíveis e das atividades instintivas brutas por comportarem, as inclinações, certa representação na consciência e por suportarem mais eficazmente esforços de contenção de suas manifestações.

   O termo paixão, como se fosse o outro lado da moeda das inclinações, designa um estado afetivo mais agudo, absorvente e tiranizante que estas. A paixão polariza a vida psíquica do indivíduo na direção de um objeto único, o qual passa a monopolizar os pensamentos e as ações, com exclusão ou detrimento de tudo mais. As inclinações e as paixões procedem da mesma esfera de tendências instintivo-afetivas, que formam a base da organização biopsicológica do ser humano.

   Desde Aristóteles, vários pensadores ressaltaram o caráter de passividade e submissão da pessoa às suas paixões e inclinações, quase sempre tidas por nocivas ou perigosas à razão, e contra as quais pouco se podia apelar através do autodomínio individual. Em oposição a isso, Santo Tomás encarecia a necessidade e possibilidade do ser humano derivar suas paixões para objetos bons e dignos. 


Não obstante a opinião de Santo Tomás, Spinoza, Rousseau, Montaigne também viam nas paixões, apetites cegos e indomáveis, que entravam e perturbavam o entendimento, a reflexão, o raciocínio e o julgamento, arrastando o homem à violência, aos desregramentos, fanatismos, sectarismos e despotismos, com todas as suas conseqüências.


   Depois das considerações mais variadas sobre esse tema, provenientes de filósofos, pensadores e romancistas, a psicologia contemporânea consignou alguns avanços importantes, no que se refere à sistemática das inclinações e paixões. Sabemos hoje, com efeito, que as inclinações e paixões não são previamente boas ou más em si mesmas, mas sim, em função das deformações e desequilíbrios que possam produzir em nossa mente. Evidentemente que, tanto as inclinações quanto as paixões corrompem a REPRESENTAÇÃO da realidade. São maneiras totalmente deformadas de considerar o real.


Representação da Realidade

Empatia e Ressonância Afetiva


   As Ressonâncias Afetivas, segundo Nobre de Melo, compreendem as várias modalidades de empatia, termo e conceito introduzidos em Psicologia por Theodor Lipps, de excepcional relevância por constituir valiosa fonte de conhecimento intuitivo e REPRESENTAÇÃO da realidade.

   Em seu mais amplo sentido, a empatia é um processo que se manifesta como uma intencionalidade objetiva do eu no não-eu, ou do sujeito sobre o objeto sob a forma de identificação emocional, fusão afetiva, interação anímica e espiritual. Este processo, tanto se refere a coisas, objetos, experiência sensível no mundo, na natureza e na Arte, assim como às atividades, emoções e sentimentos do eu alheio.

   Goethe, em suas Afinidades Eletivas, enaltece a ação benéfica que a esmeralda exerce sobre nós, cuja cor maravilhosa tanto agrada à vista, e exalta o poder curativo da beleza humana, cuja contemplação nos torna isentos de todo mal, caracteriza com isso, nada mais que uma forma de objetivação empática de seus próprios sentimentos no mundo exterior. Assim sendo, então, a empatia também pode influenciar na e REPRESENTAÇÃO da realidade. A empatia é como uma projeção dos sentimentos e estados de ânimo nas coisas em torno, tal como faziam os povos primitivos animando a natureza com deuses e duendes, ou os artistas e poetas com a linguagem literária adornada de imagens e expressões simbólicas.

   A empatia é também reflexo de uma riqueza de nossa vida interior, objetivada intencionalmente na natureza que nos envolve, tal como quando falamos, simbolicamente, do "ar altaneiro e desdenhoso de uma palmeira que se ergue, esguia e solitária, no topo da montanha", ou quando falamos dos "açoites do vendaval, impetuoso e iracundo"; ou dos "arremessos do oceano, selvagem e apaixonado"; ou ainda de "vales tranqüilos e amenos", de "árvores amigas", "regatos sussurrantes”. . . e tantas outras expressões com as quais projetamos, enfim, na natureza circundante, os sentimentos que povoam o nosso mundo interior.

   Uma forma de objetivação empática é aquela caracterizada por participação ou fusão afetiva. Trata-se aqui de uma variedade passível de observação até mesmo entre os animais de vida gregária. Na espécie humana, citam-se como exemplos da fusão afetiva, a identificação empática dos membros de um clã, uma tribo, uma família, entidade de classe, etc. Trata-se, por exemplo, da fusão da mãe com o filho ou da criança com os personagens fictícios e objetos inanimados do mundo infantil, do adolescente com os heróis do romance. Obviamente que, com a empatia, há interferência sobre a REPRESENTAÇÃO da realidade.

   Algo parecido é a chamada empatia estética. Por empatia estética entendemos tudo o que concerne à indecifrável relação afetiva que a obra de arte estabelece entre o criador e o contemplador. Como qualquer outra modalidade de empatia, esta pode ser positiva ou negativa e só no primeiro caso podemos falar em coafinação empática. No segundo caso haverá discordância entre o emitido e o recebido. É o tipo ou modo de empatia que decide, em última instância, se o dito objeto artístico é esteticamente valioso ou não.


A REPRESENTAÇÃO DA REALIDADE

ESTADOS AFETIVOS COMPLEXOS


Verificaremos aqui os estados afetivos complexos capazes de influenciar na REPRESENTAÇÃO da realidade. Pode-se entender como estados afetivos complexos, certos fenômenos tímicos que ora se dão como puros estados de consciência sem conteúdos intelectuais, como é o caso dos sentimentos do eu, de Karl Jaspers, ora se apresentam aderidos a realidade externa. Atrelados à realidade externa, porém imaginária, esses estados afetivos seriam os sentimentos fantásticos de Jaspers e, referentes à realidade externa verdadeira, seriam os sentimentos de representação e de juízo a que correspondem, respectivamente, os sentimentos estéticos e os de valor.

   Alguns desses estados afetivos complexos podem ser aqui referidos. É o caso, por exemplo, do pesar. Um desprazer intenso, de motivação moral ou psíquica, com acentuada e clara agudização da consciência do eu. É também o caso do sentimento de tristeza simples, ao qual pode se somar a perda da impulsividade reacional, uma atitude de desalento, uma entrega passiva e resignada ao sofrimento. Temos também o desgosto, que é uma variedade de pesar onde se vislumbra algo de revolta contra alguma sensação de injustiça. O desgosto trará mais sofrimento quando à ele se alia a perda total de qualquer esperança de reparação. Nesses casos teremos o sentimento de desespero.

   Outro estado afetivo complexo é a repugnância, um estado onde o sentimento de repulsa e aversão se objetiva sob a forma de nojo ou asco, podendo exteriorizar-se com ou sem reação nauseosa concomitante. O mesmo se pode dizer dos conteúdos vivenciais da alegria, sempre ruidosa e comunicativa, como que a reclamar a compartilhação alheia com seu transbordamento. Ainda temos o sentimento de júbilo, o qual pressupõe um acontecimento motivador, e onde se entrevê certa ponta de orgulho, com secreto desejo ser distinguido e festejado. Há também o otimismo, uma atitude intelectual de bom humor e a satisfação, sempre discreta e silenciosa, por mais intensa e duradoura. Há também o estado afetivo do ressentimento, um sentimento que pode brotar do flagrante desacordo entre o que poderia ter sido e que não foi. Aqui, a nota dominante é dada pela tendência à ruminação masoquista do que tenha sido vivenciado como injusto, deprimente e humilhante.

   Finalmente, como estado afetivo complexo capaz de interferir na REPRESENTAÇÃO da realidade, temos a angústia, apanágio do homem como espírito. Esta decorre da consciência que o homem adquire de sua liberdade, ao passar da inocência à culpa, segundo o existencialismo. A liberdade e a possibilidade geram a angústia existencial, pelo que não é mas poderia ser, colocando-se o futuro como realidade ameaçadora.

   Embora não seja de todo necessário aqui distinguir, fenomenologicamente, a angústia, o medo e a ansiedade, podemos refletir brevemente sobre isso. Diferenciar o medo da angústia é tarefa relativamente fácil. O medo normal tem sempre um motivo conhecido e um objeto consciente, reais e plausíveis, o que não sucede na angústia, que surge sem motivo justificável e sem conteúdo objetivo. Na ansiedade há mais um sentimento de previsão ou antecipação de um perigo imaginário e desconhecido. Entretanto, as manifestações somáticas do medo, da ansiedade e da angústia são, na verdade, aparentemente semelhantes.

   Recorrendo à estratificação das categorias de avaliar-se a realidade vistas no início desse capítulo, podemos deduzir que o medo é um estado afetivo que se origina nas camadas dos chamados sentimentos sensoriais e dos sentimentos anímicos, é uma emoção primária (ver acima) e além disso, é suscitado pela presença de uma situação ameaçadora real, que ponha em risco imediato ou mediato a integridade física ou moral do indivíduo, como dissemos. 

O medo é um fenômeno psíquico, diretamente vinculado ao instinto de conservação individual e, portanto, pertencente tanto ao homem como aos animais. A ansiedade patológica é sempre um medo mórbido e que se origina, sem motivação conhecida, na esfera dos sentimentos vitais.

   A angústia existencial, propriamente dita, emana da esfera dos sentimentos espirituais (ver categorias de avaliar-se a realidade) e é, por isso, específica e exclusiva do ser humano. Os animais são suscetíveis de medo e de ansiedade, mas não de angústia existencial, a qual pressupõe a consciência de estar-no-mundo, de existir no tempo, de ser-para-a-morte.










A influência da cultura nas respostas psicossomáticas 


 

    As práticas e os significados partilhados nos grupos sociais formam o processo cultural, que tem permanência de tempo, caráter de coletividade e continuidade, realizando a construção da realidade. Uma cultura adquire conformação e caráter específicos graças à coerência de suas instituições sociais, as quais garantem sua continuidade. 

    As características da cultura representam potencialidades adaptativas e estressoras. O homem não é apenas o produtor da cultura. Esta interfere no biológico, como por exemplo, africanos removidos violentamente de seu continente, na época da escravidão, perdiam a motivação para viver fora de seu contexto cultural e padeciam do mal chamado "banzo", traduzido como semelhante à "saudade". Ocorria também um alto índice de suicídios entre os negros escravizados. Dessa forma as respostas psicossomáticas sofrem influências diferentes em cada cultura ou subculturas. 

    Os processos psicossociais são constituídos, em parte, por percepções e atitudes dos indivíduos e, em parte, por elementos culturais que direcionam os vínculos. Por exemplo, os critérios específicos sobre saúde, doença, trabalho, são constituídos pela cultura e transformados pelos indivíduos. A cultura é edificada a partir do meio ambiente, que corresponde ao mundo externo e à realidade imediata. Esta realidade é decorrente da vida cotidiana e subjetivamente dotada de sentido para os homens, na medida em que forma um mundo coerente. 

    Foram identificados como aspectos culturais estressantes o uso acentuado de tabus, saturação de valores, instabilidade de modelos culturais, privação de vida social e rigidez de normas. As pessoas julgam ter livre arbítrio para suas escolhas e se esquecem do controle que a cultura imprime sobre seus comportamentos. Este controle muitas vezes já está tão introjetado que passa imperceptível em algumas situações. E o estresse ocorre sem que o indivíduo perceba a sua gênese cultural. 

terça-feira, 19 de janeiro de 2021

A Arte de Sonhar



Passamos nossa vida acreditando que este mundo ai fora é o mundo real e que nossos sonhos pertencem a uma categoria abstrata e, em alguma medida, intangível. Assim ocorre porque fomos programados para isso. Tivemos toda uma vida onde não foi dada a devida importância aos sonhos e à Arte de Sonhar (que é o emprego de um conjunto de práticas destinadas a nos capacitar a sonharmos conscientemente). Desta forma, sonho e sonhar são coisas diferentes. Um vem em nossa direção (sonho) e o outro é quando vamos na direção que desejamos (sonhar). Somos prisioneiros dos sonhos de nossa cultura, dos nossos pais e somos sistematicamente, desde a infância, afastados do nosso “sonhar”. 

  Assim é que nos metemos em mundos que desconhecemos ou, para dizer o mínimo, não nos atende em nossos anseios. E o que vem a ser esse anseio (ansiedade) senão alguma “memória” de um mundo que nos é familiar em alguma medida. Onde, ou como esse mundo me é familiar? Como eu posso ser tomado de “saudade” por alguma coisa, idéia ou pessoa que não conheço (neste estado de consciência), mas parece que conheço de alguma forma?

Falemos um pouco dos sonhos.

Os sonhos têm sido tratados por alguns como meros dejetos da mente, como se fossem subprodutos que devem ser rejeitados pelos processos mentais, mal comparando, como se fora a bílis para o fígado. Tais que assim pensam – e não são poucos – confundem o sonho com o resultado da fisiologia cerebral (?).

Para Freud e seus seguidores o sonho seria como uma realização disfarçada dum desejo sexual recalcado. Para este autor, os sonhos seriam “fachadas” a esconder conteúdos que não poderiam ser expressos explicitamente na dimensão consciente. É como se fossem sinais ou seja, maneiras de exprimir coisas que poderiam ser expressas de outros modos, por ex.: caverna significaria seio materno, touro significaria pai, espada – pênis, o que levou a uma descrição fixa e reducionista e consistente com apenas uma possibilidade de significação. A função deste sinal, para Freud seria permitir que a “censura” consentisse que o conteúdo latente se revelasse.

Na Índia temos a descrição de que o mundo existe porque um de seus deuses “sonha” o mundo. (Vishnu)

Somos um corpo físico e um corpo energético. O corpo físico é por demais conhecido (ao menos achamos assim) e quanto ao corpo energético, este então nos é de todo desconhecido, ao menos no que diz respeito à sua forma de existir – embora em inúmeras vezes sintamos sua presença e manifestação - e como podemos usá-lo conscientemente. Como associamos o corpo físico ao mundo ao nosso redor, nós o usamos com uma certa desenvoltura e acreditamos que o mundo que existe ao nosso redor está aí para ser vivido e desfrutado segundo as limitações que ele nos impõe, por exemplo, podemos andar sobre a relva, ver o sol nascer, sentir a chuva, comermos maçãs,  mas não podemos caminhar sobre as águas. Por quê? Porque aceitamos simplesmente que as coisas se dão dessa forma preestabelecida que diz: não se pode andar sobre as águas. Ao longo da história da humanidade isso nos foi dito e aceitamos sem pestanejar e nem mesmo nunca tentamos andar sobre as águas. Porque não tentamos faze-lo? Porque acreditamos que tal não pode acontecer pois isso nos foi ensinado e vem sendo ensinado a milhares de anos. Já vimos alguém andar sobre as águas? Não, e mesmo que tivéssemos visto deixaríamos isso por conta de uma alucinação. Mas não quer dizer que tal não possa acontecer de forma absoluta. Pelo fato de não ter sido experimentado por nós, nos assegura de sua “impossibilidade”. 

Muitos não conhecem o Tibet, mas muitos sonham com o Tibet e são capazes de jurar que lá é um lugar mágico, encantado e cheio de coisas misteriosas. Porque isso se dá? Porque muitas histórias foram contadas a respeito e muito foi dito a respeito sobre os homens e mulheres que moram naqueles paramos e sobre seus poderes “miraculosos”.

Nossa situação de vida nos foi ofertada pelos que nos antecederam e nos ensinaram a dizer que é assim que as coisas devem ser.

No entanto vemo-nos às voltas com “sonhos” que nos mostram outras realidades, outras possibilidades, outros feitos. Em sonhos realizamos aquelas proezas fantásticas que só admitimos como pertencendo ao mundo dos sonhos ou aos tibetanos... e aqui começa nossa jornada, sermos capazes de “sonhar” os sonhos que quisermos e faze-los tão reais quanto estas linhas que você está lendo. 

Nós podemos moldar as circunstâncias de nossa vida de maneira que atendam às nossas especificações. O difícil aqui vai ser convencer o individuo que ele pode fazer isso, mostrar que ele pode entrar nesta estranha realidade, bastante diferente da realidade à qual ele está acostumado.

Se nos lembrarmos de algum grande feito que tenhamos realizado e que, em algum momento era dado como impraticável e que, depois de algumas tentativas e de séria intenção conseguimos realiza-lo, poderemos começar a apreender o significado da arte de sonhar. Tal era nossa convicção que conseguimos passar por sobre barreiras que antes nossa consciência determinou como intransponíveis.

Moldar nossa situação de vida é moldarmos nossa consciência de como estamos vivos. 

Tudo se resume, em ultima instância à maneira como organizamos o nosso mundo e o nosso viver nele e o cristalizamos. Memórias e emoções são atributos importantes nesse processo.

O nosso corpo energético é que se encarrega de distribuir a nossa energia pelos mundos físico e dos sonhos, e como passamos a maior parte do tempo conscientes apenas enquanto estamos acordados, sobra-nos muito pouca energia para estarmos conscientes enquanto sonhamos. 

Isso mesmo, podemos ficar conscientes durante o sonho e nisso consiste a arte de sonhar dos monges, dos feiticeiros e de outros homens e mulheres de poder.

O que vem a ser a socialização senão a repetição exaustiva de conceitos até que eles se tornem reais e aceitos. Esta repetição é a maneira pela qual nossos pais e a cultura nos socializaram para funcionarmos no mundo cotidiano, sem aviltarmos nada e nem incomodarmos ninguém se, por exemplo, resolvêssemos caminhar sobre as águas ou voássemos como os pássaros. Seria muito confuso e ameaçador para a cultura e para nossos pais se começássemos a fazer coisas que não estão em seu repertório reconhecido e aceito. Como lidariam com isso? Como explicariam para o vizinho que o filho deles fica voando pelo quarto e a filha sai voando (literalmente) pela janela sempre que tem vontade de se encontrar com o namorado? Mas não é isso mesmo que fazemos quando queremos fugir dos grilhões sociais e da família? A diferença é que ficamos deitados na cama sonhando que estamos fazendo aquilo e nos damos por satisfeitos (mas a sensação de incompletude permanece profunda e a sensação de frustração nos assola).

Entretanto quando temos uma intenção forte e determinada, somos capazes de desescalar as paredes de nossa casa e voarmos na direção de nosso sonho. Tais situações têm poder pessoal bastante para nos motivar. O desejo de liberdade, o desejo de nos encontrarmos com a pessoa amada, o desejo de irmos para aquele lugar proibido, nos confere uma disposição e energias que, tradicionalmente permanecem adormecidos. Aí está. Anseios profundos vindos de regiões do corpo energético nos confere capacidades, não raro, muito além das expectativas que temos de nós mesmos a ponto de realizarmos feitos “miraculosos”. Quem nunca ouviu ao menos um relato de, em caso de algum acidente que uma mãe foi capaz de levantar um móvel, ou mesmo um veiculo para dali tirar seu filho que corria risco de morte? De onde veio tal força? Da completa focalização da atenção da mãe sobre seu desejo e a isso chamo de INTENÇÃO. Não há nenhum desvio da atenção para a consecução de determinado objetivo. Não há nenhum desvio da energia. Toda ela é concentrada para se intentar o feito. Neste momento está demonstrado o que eu chamo aqui da arte de sonhar. Naquele momento do acidente a mãe ou o pai “sonhou” com outra realidade que não aquela que se escancarava à sua frente e foi capaz de constelar energia suficiente para criar outra realidade, qual seja, a do filho fora dos escombros ou de debaixo do veiculo. E os exemplos podem se estender às centenas. Nós mesmos já passamos por várias desta situações, mas como não temos poder pessoal para validarmos ditas experiências elas passam apenas a serem partes de uma lembrança curiosa, conquanto irrefutável.


Trabalhar com a arte de sonhar é apenas a forma como os homens de poder “lubrificam” os canais por onde essa energia, oriunda do corpo energético, flui para o nosso mundo mais consciente e, destarte, criar uma cadeia de escolhas de comportamento ao lidar com o mundo, escolhas muito mais adequadas e inteligentes do que aquelas que nossos pais e predecessores nos ensinaram. 

Estas novas escolhas destinam-se a recompor nossas vidas, alterando nossas reações e ações básicas com relação ao estarmos vivos.

O sonhar tem uma esfera própria. Em nada se parece com o que conhecemos até hoje tradicionalmente como sonho. 

Tudo no universo é energia, vibração. Energia pura e fluindo livremente e preenchendo todo o espaço e aqui e acolá condensadamente, formando corpos que são tangíveis no espectro de realidade em que vive o ser humano comum. Alguns animais percebem realidades para alem da dimensão em que o homem foi treinado a enxergar e aceitar e reagem à ela de forma inexplicável pelos cânones normais, mas não constituindo nenhuma surpresa para aqueles que conhecem as dimensões infinitas dos campos de energia mais sutis que constitui o que chamamos de universo...e nós não somos parte deste universo, somos o próprio universo manifesto e ativo.


Para o budismo, o ato máximo do ser humano é alcançar um estado no qual ele transcende o aspecto ilusório da dualidade e assim se reconhece como UNO com o universo. Em tempo, budha é um verbo na língua indo ariana que significa despertar, ou melhor definindo "aquele que sabe". Estamos aqui falando da mesma coisa. Transcender os limites impostos pelo corpo físico e sua cultura social significa penetrar no universo da energia existindo em sua forma plena, pura e fluida. A recente escola de Copenhague, a da Mecânica Quântica traz novas luzes sobre estes fatos já, fartamente sabidos, experimentados e corroborados por escolas e sociedades de mistérios e grupos de feiticeiros e monges em todos os rincões da terra. A mecânica quântica é um novo modelo para se pensar o universo, elas não nos fala de fatos, mas de possibilidades de tais fatos ocorrerem e sempre a partir da influência do observador. Será que neste caso, observador e sonhador consciente seriam sinônimos??? Falo aqui dos cientistas quânticos por se tratar da opinião daqueles que, tradicionalmente, são os detentores do conhecimento mensurável e, portanto, aceitável. É uma nova ordem de monges e feiticeiros modernos que, ao invés de estarem na mata e nos templos fazendo cerimônias, estão em seus laboratórios realizando suas experiências que, ao olhar de outros teóricos, podem parecer extremamente esotéricas também. Feiticeiros da nova era.